Acontecimento inesperado

Gilberto Carvalho Pereira- Fortaleza, CE, 7 de janeiro de 2025

A noite passada chovera não muito, mas o suficiente para baixar a temperatura, deixando o ambiente bastante agradável. Os que tinham que sair cedo para trabalhar, já se encontravam nos seus locais onde exerciam seus ofícios laborais. Para eles, o dia começara normal, sem nenhuma intercorrência. Era mais um dia que se iniciava, estavam felizes e cultivavam a esperança de que essa ventura se repetisse ao longo do ano, que acabara de se fazer presente, no calendário, criado pelo monge chamado Dionísio, tornando-se oficial em 1582, pelo papa Gregório XIII. O Calendário Gregoriano, pregado na parede da cozinha, marcava 2 de janeiro de 2024.

Naquele quarto, a velha senhora parecia ainda dormir. Fazia-lhe companhia o Godofredo, belo gato da família, que morava com eles há cinco anos. Era afável, meigo e se entregava rapidamente a quem lhe fizesse carinho. Estava de vigília, como se pressentisse um acontecimento anormal para aquela manhã, com a senhora que estava deitada sobre um perfumado lençol branco.

Já passava da hora de a idosa levantar-se para o café da manhã. Inquieto, o gato subiu na cama e percebeu que ela se encontrava imóvel. Fez algumas tentativas, arranhando-a levemente nos braços, e nada. De pronto foi até a sala, onde se encontrava o senhor que há poucos dias chegara àquela casa. O gato miava insistentemente, mas o homem não ligava, então o bichano passou a puxar-lhe as pernas da calça, tentando chamar-lhe a atenção. O homem levantou-se, enxotou o gato e foi saindo de fininho. Godofredo fez novas tentativas, corria até a porta do quarto onde estava a senhora, e voltava à presença daquele homem teimoso. Fez isso umas três vezes, e em ambientes diferentes da casa.

De repente o homem se deu conta de que aquela insistência representava algo que ele deveria averiguar. Acompanhou o felídeo até o quarto onde sua esposa dormia, chegou-se próximo à cama, chamou-a pelo nome e, não havendo reposta, tomou-lhe a mão, colocou os dedos médio e indicador sobre o pulso dela, percebendo que não havia mais batida. Ciente de que naquele corpo não havia mais vida, caiu em desespero. Imediatamente procurou seu celular, que deixara na sala de visita, sobre a mesa, e telefonou para o filho. Ao perceber que já tinha gente do outro lado, balbuciou:

─ Emerson, minha mãe morreu!

─ Eu sei, pai. Faz algum tempo que ela morreu – falou o filho, tentando tranquilizar o seu pai.

─ Não, filho, foi sua mãe quem morreu, - gritando firme ele completou.

Do outro lado ouviu-se um baque, como se alguém tivesse caído. O celular ainda continuou ligado, ouvia-se gente falando, perguntando ao filho caído, o que acontecera. A notícia inesperada levou-o a um desmaio momentâneo.

Recuperado, o filho acalmou-se, telefonou para a esposa, no trabalho, e falou sobre o que acabara de ouvir de seu pai, desnorteada pela notícia, combinaram irem direto para casa, se encontrariam lá. Ambos estavam nervosos e preocupados com o pai e sogro. Depois de terem pedido permissão para deixarem o local de trabalho, rumaram rapidamente para casa. Duas crianças, filhos do casal, precisavam de apoio. Ao chegarem, juntaram-se ao senhor enlutado, procurando saber como tudo acontecera. O abatimento era total.

Os detalhes foram passados, não havia mais nada a fazer, somente contratar uma funerária, preparar o corpo para traslado até a cidade onde o casal de idosos morava. Não haveria exéquias, cerimônia religiosa com ritos e orações, que os cristãos encomendam os corpos a Deus.

Foi um corre-corre desesperador. Preparado o corpo, foi levado ao aeroporto para a realização dos procedimentos de embarque, preparação dos papéis, compra de passagem e orientação onde fazer a entrega do caixão mortuário. Um parente deles já havia tomado as providências para isso. O avião sairia às 20 horas, para o destino indicado.

Por seu turno, pai, filho e a nora, já tinham viajado desde as 14 horas, para recepcionar o caixão trazendo o corpo da senhora idosa. Os trâmites legais cumpridos, o enterro foi marcado para o dia seguinte. Os parentes já comunicados, consternados ofereciam suas condolências à família enlutada. O cansaço e o sofrimento estavam estampados na fisionomia de cada uma das pessoas que passaram por aquele trauma.

No Campo Santo, local sagrado destinado ao descanso eterno dos mortos, o sacerdote assim se expressou: ─ Infelizmente são situações, às quais qualquer um de nós, poderá vir a passar.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 07/01/2025
Reeditado em 07/01/2025
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