MACHADO E OS TOCOS

CONTO

MACHADO E OS TOCOS

PREFÁCIO:

Precisamos, antes de mais nada, estabelecer a verdade, como base dessa história, embora seja uma história ficcional. Toda história deve agradar logo de início ao primeiro leitor: justamente o escritor. Ofício trabalhoso, sério, mas inevitavelmente visto como um monte de legos, por este autor. As alegorias com brinquedos são, em parte pura criancice mesmo, e em parte, pelo quanto brinquedos permitem uma interação imediata com as crianças, em especial meu muito amado netinho e em breve minha muito amada netinha. Gosto de montar, desmontar e ainda de desafiar outras pessoas a pegarem aquele amontoado de peças e tentar reproduzir as mesmas coisas. Não fazem, porque a criatividade é uma parte essencial de cada um de nós. Então, com base nessa breve reflexão, entendo que escrever é também diversão. No meu caso, gosto da ficção por permitir que se invente, mas amo desde sempre o elemento histórico da nossa História. Com um detalhe: a parte crua, feia, aquela excluída dos livros de História. O que justamente, foi "esquecido", ou não se ensina nas escolas. Tanto o esquecimento, quanto a indiferença, são as piores coisas que poderiam ser feitas, por qualquer pessoa. Com grupos de pessoas não é diferente. Estamos numa época; em que prevalece uma onda de inclusão, que deveria ser chamada (quando muito) de ondulação e das pequenas. Porque é um fingimento de inclusão de determinada cor de pessoa e outras são sumariamente ignoradas, como se já tivessem sido, varridas literalmente do mapa. Enquanto como seres participantes da História, não tivermos coragem de trazer aos livros didáticos a crueza dos fatos; fatos são o que são, sem filtro, sem maquiagem, se são horrendos, não vão passar a ser menos por alguma maquiagem, ainda mais fatos históricos. Duas são as fontes primárias no presente caso. Li duas publicações desse mesmo conto do Machado de Assis e não estou com nenhuma à mão, pode ser que por uma questão de refinar o escrito, pegue o texto ou não. A outra, que vai fazer mais falta ainda, é o livro A vida dos escravos no Rio de Janeiro entre 1808 e 1850. Existe um outro, que fará tanta falta quanto o segundo, chamado O Trato dos viventes. Não custa reiterarmos, que esses livros foram lidos, mas não os temos mais em mãos, para consulta ou enriquecimento dessa história. E, por hora, isso nos basta. Vamos aproveitar a manhã, porque como ontem, o calor vai ser um horror. Pra finalizar, entendo, sentindo na própria pele, que a nossa história precisa ser revisitada, assim como nossa economia, como um todo precisa ser refeita, como ouvi ontem, grosso modo, se os meios de distribuição de novas modalidades de energia vierem com o rótulo de limpas, mas continuarmos com valores elevados e elas forem mais uma forma de chegar a quem tem melhores condições financeiras, entao não adiantará investir em matrizes de energia desta forma. Ela vai continuar sendo uma forma de concentração de renda. Da mesma forma, se não investirmos na base, e dermos chance do cidadão ser formado, como tal, desde o seu primeiro contato com o sistema educacional, e não for dado a ele meios de conhecer, sim a verdade, sobre os alicerces, que foram fincados no solo deste chão, com base nos fatos, e não em versões maquiadas, para agradarem quem quer que seja, então nunca formaremos cidadãos com real senso crítico. Estamos ainda esperando que isso aconteça. Não acontece. Vamos aos fatos, com dois exemplos práticos, atuais. O primeiro museu da cidade aonde nasci, cresci e passei a maior parte da minha vida, está em obras, que não identificamos, se serão concluídas em curto, médio ou longo prazo. O busto do artista responsável pelo mesmo museu, está há anos sem a placa de identificação. O fundador da cidada tem, para lembrar a qualquer um, que aquela foi uma terra de índios, uma estátua. Não existe museu em sua homenagem, esse é quase um ilustre desconhecido. Tanto em Niterói, como no Rio de Janeiro, alguém faça o favor de indicar, aonde estão os museus reservados a contar a história dos escravos, ou dos quilombos que ali existiram. Não tem. E sim já aumentei para três os exemplos: Antônio Parreiras, Araribóia e os escravos do Rio de Janeiro. Enfim, existe outro livro, que já íamos esquecer de fazer referência, chamado No tempo dos barões, que narra as memórias de uma pessoa que faz parte dos descendentes, dos barões de Paty do Alferes, cidade localizada, também aqui no Estado do Rio de Janeiro. Essa ficção, parte da nossa própria identificação, com o personagem do pai, seja por sorte ou azar, passamos por várias profissões e estava vivenciando o mesmo tipo de problema, por até então não ter nenhum meio de ganho fixo, por assim dizer. Por isso, esse conto me marcou tanto, e é a base principal de inspiração, para a história a seguir.

1. Me chamo Machado, hoje Machado de Assis. Seria pouco elegante falar da minha própria pessoa, infelizmente preciso me contrariar, porque amanhã a História certamente vai me julgar. Julgo-a eu já. Não gosto do que vejo a minha frente, escondo meus sentimentos, meus sofrimentos, desde que me percebi como gente, vendo as feridas nas mãos de minha mãe, que tinha de lavar pilhas e mais pilhas de roupas, rotina muito pesada, que ela e outras tinham de enfrentar todos os dias, menos aos domingos, e não entendem até hoje, que se Nosso Senhor não tivesse descansado no sétimo dia, nem esse dia, ela e toda essa gente desgraçada, teria de descanso. Olho para essas mãos, tento, só tento, imaginar as dores que as dela passaram. Ela também passou. Volto meus pensamentos para o fato inevitável, que também estou com meus dias contados. Romances, poesias, contos publicados, nem para minha companheira, deixei passar esse último projeto, que passa pela minha cabeça. Com justiça me alcunharam de bruxo. E, como tal, farei minha última bruxaria. Só que, velho, trajado como andam por aí os brancos, de cabelos brancos, bigodes e barba brancos, se fosse procurar eu mesmo fazer o que pretendo, mataria a criança ainda no ventre materno. Da mesma forma daquele desesperado, no Pai contra filho. Bruxo que se preze, precisa de assistente, para uma Machado nada melhor que um toco ou vários, depende do quanto estiver afiado o Machado. Escondido de todos, formei alguns moços, meninos forros, para terem trânsito livre pelas fazendas e senzalas, e combinamos que se algum deles der o azar de ser pego, falará que estão a mando de algum padre. Sempre um padre daqui da Capital, entre os padres novos, mas não foi o caso. A maior parte, para não dizer a totalidade, das pessoas que não são brancas, pouco ou nada foram a escola. Esses relatos colhidos em primeira mão, sei de antemão, que precisarão ser devidamente escondidos. Ainda deveria criar um pseudônimo, por sorte, todo serviço braçal, executado também na Academia, é feito por gente de cor. Eles esconderão esse material e quando chegarem a luz, espero, até o toco mais novo, já estará nela. É bem provavel, que a História oficial, faça questão de minimizar essas ocorrências. O quadro que se apresenta hoje é, no mínimo, lamentavel, deixar tanta gente na escuridão da ignorância não deixa de ser outra forma de servidão. Mesmo sendo contra, não posso me voltar contra essa parte do sistema, só se fosse pra morrer de fome. Brancos, negros e índios vamos ter de fazer parte do mesmo barco, mas não posso, por motivos óbvios, fazer nada além de lamentar, pela falta de condições de relatar alguma coisa sobre a história dos últimos...

Renato Lannes Chagas

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Renato Lannes Chagas
Enviado por Renato Lannes Chagas em 02/01/2025
Código do texto: T8232109
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