Diálogo de casal

Estavam a caminho de um jantar que aconteceria na casa de outro casal. Ela terminava de se maquiar.

— Estou bonita?

— Hum, o quê?

— Perguntei se estou bonita.

— Está sim.

— Mesmo?

— Claro.

— Você respondeu sem olhar pra mim.

— Olhei sim, com o canto do olho. Estou dirigindo, não posso me distrair.

Ela suspirou. Ele reduziu momentaneamente a velocidade e a observou.

— Você está linda. Satisfeita?

Ela deu de ombros e passou mais batom nos lábios.

— Por que está tão preocupada com a aparência?

— Sempre me preocupo.

— Ah, sei.

— Está insinuando alguma coisa?

Ele balançou a cabeça.

— Eu te conheço.

— Só estranhei você se produzir tanto. É só um jantar, nada demais.

— O que é, hein? Vai dar uma de ciumento agora?

— Eu? A essa altura da vida?

— Eu sei que você tem ciúmes do Pedrão.

— Só me faltava.

— Tem sim. Sempre que ele e eu conversamos a sós você dá um jeito de se intrometer.

— Isso é coisa da sua cabeça.

— Reconheço que ele é bonitão, mas não faz o meu tipo.

— Não? Você sempre fala que homem malhado é esteticamente interessante.

— Falo. Mas ele, apesar de sarado, não me atrai.

Ele riu em tom sarcástico.

— E você, sente atração pela Mônica?

— Você sabe que não.

— Eu não sei de nada.

— Ao contrário do que você pensa, não sinto atração por mulheres magras.

— Ah, tá.

— Juro que não. Ela é tão magra que não tem nem onde pegar.

— Já se preocupou com isso?

— Com o quê?

— Onde pegar?

— Não! É só uma observação.

— Eu vejo o seu olhar quando ela está vestindo aquelas roupinhas.

— Olho porque acho indecente.

— Por que indecente?

— Sei lá, acho que não pega bem uma mulher casada, mãe, com mais de quarenta andar vestida daquele jeito.

— Machista!

— Eu não sou machista, sou só conservador nesse sentido.

— Se eu tivesse o corpo que ela tem, eu também usaria aquele tipo de roupa.

— Você teria que malhar muito pra chegar a isso.

— Olha quem fala, não enxerga a sua barriga?

— Já diz o ditado: um homem sem barriga é um homem sem história.

— Então você é uma biblioteca.

— Melhor ser uma biblioteca do que ser um saco de ossos feito o Pedrão.

— Ele tem músculos também.

— E você gosta, né, safada?

— Acho bonito, só isso.

— Provavelmente ele tenta compensar com músculos o que falta em outros lugares.

— Pelo que a Mônica diz, não falta nada.

— O que ela diz?

— Nada não, conversa de mulher.

— Sei… O Pedrão deve ser mesmo um guerreiro pra aguentar aquele furacão.

— Por que furacão?

— Nada não, conversa de homem.

Percorreram alguns quilômetros em silêncio.

— O que eles vão servir no jantar?

— A Mônica falou que vai ser frango grelhado com salada.

— Ah, não, de novo? Eles só sabem comer isso.

— Pois é.

— Justo hoje que eu estou faminto.

— Se você quiser furar, por mim tudo bem.

— Que tal a gente voltar pra casa e pedir um japonês?

— Não seria melhor comida chinesa?

— Que tal massa?

— Pizza, pode ser?

— Com uma porção de batata frita.

— Batata frita com cheddar?

— Perfeito!

Renato A
Enviado por Renato A em 13/12/2024
Código do texto: T8218329
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