As aparências se enganam...

Lembro e muito, quando passávamos pelo casebre bem macabro. De vez enquanto, ouvia até boatos de assombrações. Jamais suspeitaria que meu pai haveria de comprar a tal inusitada casa.

Só de olhar eu já tinha medo, ainda mais quando recordava dos boatos. Enfim, papai nunca se preocupou com isso. Foi a casa que ele conseguiu, para que saíssemos do aluguel.

Chegamos numa temível sexta feira treze. De vez enquanto, escutávamos ruídos de carros ou cavalos passando de frente a casa. Era raro, mas ouvíamos.

Meus pais eram os únicos que não enxergavam nada de sinistro na aparência daquela casa. Meu saudoso pai dizia que lembrava e muito sua infância e a vida ofertada pelo saudoso pai dele. Que Deus os tenham num bom lugar!

Quase tive um enfarte quando meu pai teve a audácia de dizer que eu haveria de ter um quarto somente para mim, o mesmo presente seria para minha irmã. Só não recusei porque em casa, o que valia era a palavra dos meus pais.

Temia de medo quando a noite chegava nos primeiros dias dentro daquela casa. Vai que o povo tivesse razão e eu não estaria sozinho por aquele quarto de madrugada. Não entrava no quarto, sem antes fazer umas quatro orações do Pai Nosso.

Teve uma noite que do nada, senti um vulto arrancando a coberta de mim, quando deparei, que fiquei pálido. Que alívio, era mamãe! Algo que me tranquilizou.

Noutra noite qualquer, do nada ouvi barulho, parecia a casa estremecendo, que nada, era o velho caminhão do Senhor Joaquim, passando por ali, sem dó e piedade, sem se preocupar com a manutenção do seu ganha pão.

Demorei meses para acostumar com os pacatos barulhos.

Assim que descobri que a minha nova residência “casa sinistra” não era nada daquilo que o povo falava, também descobri que tudo aquilo era somente o reflexo da paz pelo vilarejo. Tanto que passei a amá-la. O silêncio, a alma da roça, o sossego do povo humilde daquela lugar me fez ser outro Hanair.

Vivi até os meus dezoito anos ali, foi quando concluir o ensino médio e tive que partir para outro local a fim de dar vida a minha vida acadêmica. Fiquei bons anos fora, formei, casei, vi os meus filhos crescer e depois que eu me aposentei: retornei para o lugar onde recordo e muito a vida dos meus saudosos pais.

Não sei se meus filhos e netos darão o mesmo procedimento que eu... acredito que não, vejo a mente deles tão distantes da minha raiz. Sinto que às vezes, quando já não depender somente da minha força para viver, hei de perder a raiz dos meus pais. Algo que me entristece! Queria que aquela casa tão amável, tivesse continuidade na minha geração. Enfim, algo que já não depende de mim. Aliás, falando disso, já me vejo perdendo as forças e por tão breve dependendo de alguém.

Quem dará continuidade a herança dos meus pais? Não vejo compromisso nos meus filhos e netos. Às vezes, vejo um certo desprezo por aquela terra tão ignorada por não pertencer a um centro urbano.

escritor Rogério Rodrigues
Enviado por escritor Rogério Rodrigues em 13/12/2024
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