COZINHA SOLIDÁRIA
Quatro mulheres sensíveis às Questões Sociais resolveram montar empresa em uma área favelada de uma grande cidade. Lógico que, acabaram escolhendo abrir um restaurante popular, no estilo galpão, pois em época de crise ninguém deixa de comer.
Essas mulheres eram profissionais de várias áreas, incluindo nutricionismo e educação física e as outras duas ocupavam profissões ligadas às ciências sociais. A ligação entre elas era o passado nas lutas sociais seja das igrejas ligadas à ¨Teologia da Libertação, e, principalmente as atividades da juventude cristã :JEC, JOC, JUC. Todas mantiveram seus ideais de lutar contra a desigualdade social, que no Brasil ao invés de diminuir, aumentava a olhos vistos desde a crise econômica de 2008 que se aprofundou com a pandemia.
O estabelecimento estava aberto às mulheres e homens, pois não se deixaram convencer nem pelo movimento de libertação das mulheres e nem tampouco pela proposta individual de mobilidade pela via do empreendedorismo/ identitarismo. Não faziam opção de gênero e nem de cor, pois o fundamento da desigualdade tinha como motor as classes sociais. Feito isso fizeram a opção por todos os trabalhadores que habitavam próximo ao restaurante.
Em seu convívio diário e de uma certa forma para homenagear as mulheres que trabalhavam em dupla jornada, viviam se chamando de “O Grupo das Bruxas” colocando em primeiro plano mulheres e para homenagear Silvia Federici. Esta autora em “Mulheres e Caça às Bruxas” (Boitempo,2019) “reconhece em suas pesquisas a relação entre este tipo de perseguição e o patriarcado e ressalta que a caça às bruxas precisa ser conhecida como fenômeno histórico”.
O grupo de mulheres e sua Cozinha Solidária visava homens e mulheres que poderiam vir a frequentar seu restaurante e aprender com a oferta de Cursos de Culinária. Por outro lado, visavam estender seus cursos ao uso de ervas medicinais, pois sabiam por Federici que as Bruxas medievais eram sábias na cura de enfermidades com o uso de ervas, fazendo concorrência com os homens que detinham o monopólio deste saber. Chega a relatar casos de perseguição na África atual para mostrar como as mulheres velhas são tratadas com crueldade por familiares e vizinhança. Também são alvo de assassinato neste país, na Índia, no Nepal e na Papua, Nova Guiné. Chega a citar o retorno do sobrenatural com as seitas fundamentalistas e seus cultos satânicos na Europa e nos Estados Unidos (p.110).
Pelo sim ou pelo não, o grupo queria concretizar a sua proposta no intuito de fortalecer as práticas de trabalho e organização de base que fizessem possível inverter a “onda da classe média” voltada para propostas de inclusão social de negros, mulheres, desempregados em busca de ascensão profissional. A proposta era abrir um espaço para o debate e o aprendizado alimentando o corpo e o espírito, vinculando ideias e ação. A Cozinha Solidária como Centro de Convivência entre cozinhar, ofertar cursos, centro de leituras com troca de livros e doações, programação de filmes, temas para debates, oficinas diversas, ampliando o sentido da alimentação.
Valia a pena sonhar que no futuro poderiam servir como espaço de grupos organizados na defesa de seus direitos de cidadania e organizados para a defesa das necessidades e interesses de classe trabalhadora?