Espera (ou a terrivelmente irritante mosca.)
Hoje eu tenho um compromisso importante, um encontro com uma mulher a qual convidei para almoçarmos juntos em um shopping. Eu havia saído mais cedo da faculdade hoje, e o caminho até o shopping era rápido de metrô. Então, ansioso pelo término da aula, enfim pude me levantar e deixar aquele recinto para o meu encontro. Um ônibus e um metrô depois, enfim, estou no destino. Diferente dos dias anteriores, hoje está frio, por sorte, lembrei-me de levar minha blusa, a minha favorita, aliás. O equilíbrio perfeito entre ser leve e quente, infelizmente, dentro do shopping estava quente, então a tirei no momento que entrei. O que me restava agora era esperar. Cheguei mais cedo do que esperava: uma hora e meia adiantado. Bem, obviamente eu estava ansioso, e um pouco nervoso também, mas não me preocupei. Usei o banheiro primeiramente, me aliviei e me ajeitei, e fui à procura de algum banco para sentar-me.
Andei, andei e andei. Não consegui encontrar um único banco vazio para me sentar. Meu plano se baseava em me ocupar enquanto esperava pela hora marcada, entretanto seria difícil fazer isso de pé. Para a minha sorte, minha peregrinação duraria pouco, pois enfim encontrei uma cadeira vazia para me sentar, e assim o fiz. Primeiro, tirei minha bolsa e a coloquei no banco, em seguida me sentei. Ok, lá estava eu. E agora? Abri minha bolsa e encontrei um livro lá dentro, decidi então lê-lo. Suas páginas iniciais eram entediantes, mas persisti e continuei a ler o livro, até que, a menor das criaturas, porém a maior das irritantes, decidiu fazer de mim o seu alvo.
Uma mosca, surgida do além, começou a me importunar, passando pelo meu rosto, pousando em meu ombro e me fazendo de bobo ao tentar espantá-la. Todos nós sabemos as implicações que ter uma mosca em si traz, então discretamente tentei me cheirar, tentando descobrir se a fonte de seu fascínio era o meu mau cheiro. Por sorte, eu não estava fedido, mas então, por que essa mosca não me deixava em paz? Tentei continuar a ler meu livro e ignorá-la, mas isso não foi possível, que oponente implacável. Decidi então me levantar e procurar por outro lugar para ficar. Eu sei, admito derrota, mas honestamente, quem liga?
Guardei o livro no meu bolso — cumprindo o seu papel em ser um livro de bolso — e parti em busca de solitude e paz. Poucos metros adiante, encontrei outro lugar para me sentar, dessa vez, um até mais confortável, sendo um banco estofado. Empolgado, fui me sentar e repetir o processo, coloquei minha bolsa no banco primeiro, depois retirei o livro do meu bolso e me sentei. Inacreditavelmente, após meia palavra lida em meu livro, vejo algo pousando em minha bolsa. Era ela. A mosca.
Permaneci incrédulo em ver que havia outra mosca me importunando, ou será, talvez, que fosse a mesma? Abusando de minha legítima defesa, tentei acertar a mosca com o livro que segurava, errando, obviamente. Por algum motivo, tais seres tão irritantes são também intocáveis. Após uma série de ataques fracassados, desisti, em derrota novamente. O que faria eu, então? Ficar andando em círculo pelo shopping até dar a hora? Ou apenas me sentar e aceitar ser assediado pelo inseto de mil olhos?
Enquanto pensava, percebi que meu celular estava vibrando, ignorei a mosca por um momento e fui ver o que era: ela já estava chegando! Já deve conseguir imaginar a minha felicidade ao ler tal mensagem. Parece que não fui o único a querer chegar cedo. Disse a ela que já estava no shopping e que eu estaria esperando-a na entrada. Mais uma vez, olhei para a mosca com um sorriso malicioso, “suas tentativas de acabar comigo foram em vão, estúpida!”. Me levantei e fui a caminho do lugar combinado, mais uma vez passando no banheiro para verificar de novo se eu não estava fedido. Não, eu não estava.
Ao chegar no lugar, finalmente me encontrei com ela. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, eu e a mulher que convidei para sair estávamos juntos.