MUDANÇA DE APARTAMENTO
“Me desculpem pelo choro!” Essa foi a justificativa do adolescente de dezessete anos, após a finalização da mudança do apartamento em que ele esteve ligado durante quinze anos. Era noite e ele estava com sua família.
“Tenho minhas melhores lembranças aqui.”
A mãe ficou também com vontade de chorar pelo choro do filho. Também tinha boas recordações daquele apartamento. Na verdade, já residia em outro lugar com o filho e o marido e aquela era a mudança da filha, de vinte e sete anos, que morava ali, sozinha, já há dois anos e onde também tinha lembranças, muito marcantes: um antigo namorado. A filha também ficou com vontade de chorar. O namorado caminhara por aquele lugar e agora nem pegadas.
O pai com sessenta e dois anos também ficou com vontade de chorar. Naquele apartamento não surgira a marcante andropausa. Ali, naquele apartamento, ainda tinha vontade de beijar a esposa. Não perdera a libido, não perdera massa muscular. Não se tornara um idoso e a mulher ainda respondia aos seus carinhos.
Os dois gatos da filha ficaram olhando, decerto sentindo alguma coisa triste no ar.
O filho de dezessete anos foi chorar em todos os quartos e em todos os pontos dos quartos rolavam lembranças.
"Desculpem pelo choro!” Era como querer pedir desculpas as paredes e até a infiltração no teto no banheiro.
A mãe tentou consolar o filho adolescente, mas choros de adolescentes são incontroláveis.
“Não perdemos o apartamento, amor. Apenas alugamos por trinta meses.” – disse a mãe. “O apartamento continua nosso.”
“É... mais trinta meses são muito tempo. E se a inquilina continuar morando aqui. É para nunca mais ”.
O pai concordou, contratos por tempo indeterminado são para sempre. Mesmo que fossem cinco anos para ele era esperar que a morte chegasse.
“Me deixem fechar a porta pela última vez. “ – disse o pai por prazo determinado.
Os dois gatos da filha pregavam os olhos, em seus engradados, para o momento marcante.