A Tarefa do Dia
09.12.24
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Um moleque era magro, baixo, “elétrico”, saltitante e sempre correndo.
Agitado!
O outro, alto, tinha em torno de um metro e noventa, braços e pernas
compridas; era muito magro e longilíneo, no andar rápido balançava
cadenciadamente os braços com movimentos longos e passos largos.
Dois irmãos, deduzi. A diferença discrepante de altura entre eles chamava a
atenção. O mais velho, não deveria ter mais que quinze anos, e o pequeno,
não mais de dez de traquinices. As feições eram parecidas, e o maior,
mesmo com tanta altura, tinha ainda cara de menino.
Os dois subiam rapidamente os degraus da escada rolante da estação do metrô em direção à saída.
O pequeno, à frente, corria com uma mochila do Homem Aranha nas costas; o outro, com
suas pernas de avestruz, alçava-se a cada dois degraus. Era uma
desvantagem que o moleque compensava correndo com passos curtos e
rápidos. Nos patamares entre os lances das escadas, saltitava cantarolando
uma música que não se entendia. Parecia alegre. O maior, mantinha-se
inexpressivo e quieto. Um autômato!
Um dia, parado em um degrau na escada rolante, ao passarem por mim,
notei-os pela grande diferença de tamanho que possuíam. Deduzi que o
maior levava o menor para a escola próxima à estação na qual descêramos.
Naquele dia, saí dela e segui o meu caminho para casa – a escola fica
na esquina da rua que viro para o meu destino - quando vejo o irmão alto e
desengonçado, braços balançantes e passos longos, de olhar fixo e
inexpressivo, mas determinado, vindo em minha direção, voltando para a
estação e sua casa, talvez. Missão cumprida, pensei.
A partir deste dia, encontro-os quase que diariamente no mesmo horário e
nas mesmas situações do primeiro encontro, repetindo a cena como em um
filme mudo: o pequeno, saltitante como um carneirinho novo indo para a
escola, e o maior, “um vara pau”, com sua silhueta e gestos robóticos, cara
de menino, indo e voltando, cumprindo a tarefa do dia.
Dois irmãos muito interessantes!