Magnétika- cap. XXV

No dia seguinte, aproveitei a fui falar com a moça , no intervalo das aulas. Eu também não era dos mais desenvoltos na arte do galanteio naquela época, porém me armei de coragem e fui lá:

-Oi !

-Oi!- cumprimentei-a com um beijo no rosto. Era realmente bela, daquele tipo que ainda parece uma menina , mas em que já se via a mulher a se insinuar. Falei, meio sem jeito:

-Tem um cara que quer falar com você!

-Falar o quê ?

-Bem, ele quer ler um poema pra você!

Ela misturou o espanto e a vergonha, mas por fim consentiu, numa voz meio seca e receosa:

-Está bem...

Chamei o Poeta com um sinal de dedo; ele estava escondido atrás de uma pilastra, no meio do pessoal que corria e fazia aquela algazarra. Ele apontou a cara com os dois óculos e depois voltou. Então gritei:

-Vem cá, Poeta!

Ele não teve jeito, senão caminhar naquele jeito meio desengonçado, no meio da multidão, com um papel meio amarrotado debaixo do braço. Chegou-se até nós, cabisbaixo. Eu tomei a palavra:

-Então, meu amigo, aqui, escreveu algo e quer te dizer...

-Sério?- Ela se sentiu lisonjeada, mesmo achando ele esguio e curvado.

O pátio inteiro parou para olhar e encompridou as orelhas. Eu o incentivei:

-Vamos lá, Poeta!

Ele então timidamente começou a balbuciar, mas de repente tomou coragem e leu em voz alta:

-Das coisas belas do mundo,

A flor mais graciosa...

Os alunos todos acompanhavam com um “uhhhh!” E quando terminou, foi aquela explosão:

-Ehhhh!

Giulia, a menina, envergonhada , correu para dentro. Todos davam tapas em suas costas:

-Valeu, Poeta!

-Vai fundo, cara!

Ele veio furioso em minha direção:

-Viu o que você fez? Ela nunca mais vai falar comigo! Que vergonha!

-Que nada; você tomou coragem; não aguentava mais esse lenga-lenga; não adianta fazer coisas e guardar para si. Se ela nunca mais falar com você, pelo menos tomou uma atitude.

-Tá bom! .

Ele parecia estar com muita raiva de mim.Mas chega desses amores platônicos. Precisamos de decisões na vida, mesmo que tomemos bordoadas; aprendemos com elas. Começam aí os grandes lances da vida, com coisas pequenas, mas é um impulso inicial. Lembro de Hamlet, que li bem mais velho: “ser ou não ser”. E grandes atitudes são deixadas para o dia seguinte.