O Pescador e o Mar.

*O Pescador e o Mar*

Era uma manhã nublada, e o vento frio chicoteava a orla, levantando pequenas ondas e arrastando a areia pela praia. Sentado sobre uma rocha coberta de sal e tempo, o velho pescador, João, olhava para o mar com um misto de tristeza e respeito. Ele era conhecido por suas habilidades na pesca e por sua relação profunda com o oceano, mas naquele dia não estava ali para lançar redes ou puxar linhas. Estava, em vez disso, com as mãos vazias, contemplando o que parecia ser um desafio maior que qualquer tempestade.

O mar, sempre vasto e generoso, parecia ter se tornado distante. Nos últimos meses, João não conseguia mais pescar como antes. Por mais que tentasse, a rede voltava quase vazia, o peixe lhe escapava e a maré parecia não o reconhecer. Era como se as ondas, antes suas companheiras, tivessem se transformado em estranhas. Ele se perguntava o que havia mudado, por que, de repente, ele estava de mãos atadas diante daquele que sempre fora seu sustento.

— Por que me afastas? — murmurou, como se o mar pudesse responder.

Sentia-se incapaz, e o peso da idade parecia cada vez mais evidente. Ele se lembrava dos dias em que saía para o oceano antes do amanhecer, sempre confiante no que encontraria. Agora, no entanto, o mar lhe impunha um silêncio duro e frio. João olhava para as ondas e lembrava-se das histórias que ouvira quando jovem: de que o oceano não era apenas água e peixe, mas uma força viva, que recompensava os dignos e ensinava duras lições aos que não o respeitavam.

Ainda que não compreendesse por completo, sentia que havia uma razão para aquele afastamento. Era como se o mar estivesse a lhe dizer que chegara o tempo de algo novo. Um novo chamado, uma nova tarefa. Talvez fosse a hora de transmitir seus conhecimentos, ensinar os jovens do vilarejo sobre a vida nas águas, os segredos das marés e o respeito pelas criaturas do oceano. O mar, seu velho amigo, parecia estar lhe dizendo que sua missão de pescador havia mudado.

Suspirando, João levantou-se, com o coração leve, apesar de não saber ao certo o que viria a seguir. Ele olhou para o oceano mais uma vez, como quem se despede de um velho companheiro, e, com uma ponta de sorriso nos lábios, murmurou:

— Obrigado, velho amigo.

E, pela primeira vez, sentiu que a ausência dos peixes era, na verdade, uma nova abundância: a de histórias, ensinamentos e memórias que ele agora podia compartilhar, enquanto o mar ficava, sempre ali, à espera daqueles que o entendessem. *Vasco Toledo*

Vasco Toledo
Enviado por Vasco Toledo em 19/11/2024
Código do texto: T8200102
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