O Eco do Tempo
Dona Maria vivia na mesma casa há 50 anos, testemunha de tantas histórias que as paredes pareciam sussurrar lembranças. Antes, sua sala era cheia de vozes, risadas de crianças e o som das cadeiras arrastadas nas reuniões de família. Agora, o silêncio dominava.
Os filhos, criados com tanto sacrifício, estavam ocupados com suas vidas, empregos e famílias. “A vida é assim mesmo, mãe, corrida”, diziam por telefone em conversas cada vez mais curtas. As visitas tornaram-se raras; os netos, que antes corriam pelo quintal, mal a reconheciam nas breves videoconferências.
Ela tentava compreender. A velhice, afinal, era uma espera pelo inevitável. Mas o que doía não era a solidão do corpo, era o desprezo camuflado em desculpas. A sensação de ser um fardo, uma lembrança incômoda de que o tempo não para para ninguém.
Um dia, ao arrumar os armários, encontrou uma caixa com fotografias antigas. Lá estavam os momentos em que fora o centro do mundo deles: aniversários, formaturas, dias simples de abraços espontâneos. Cada imagem era um lembrete de que já fora indispensável, já fora amada sem pressa.
Com um suspiro, ela deixou a caixa aberta sobre a mesa. Decidiu que não esperaria mais por quem não vinha. No dia seguinte, inscreveu-se em um grupo de leitura no bairro. Depois, começou a frequentar aulas de dança. Os passos eram lentos, mas firmes.
A velhice não era o fim, ela percebeu, mas o início de um novo jeito de viver. E se aqueles que amava escolhiam não vê-la, ela escolheu enxergar a si mesma. No eco do tempo, encontrou sua voz.