A SORTE VOLTOU A SORRIR

Nossa história de hoje se desenrola no já não tão nobre bairro de Botafogo, zona sul do RIO, retratado historicamente em telas que sempre evidenciavam o contraste da bela enseada homônima, que a depender do ângulo disporá de duas colinas, que bem sintetizam a alma carioca, de um lado o Pão de Açúcar mais famoso do país e do outro, o Corcovado sob os pés do Redentor, que lindo!

Nos tempos de capital federal, eram em Botafogo que se instalaram praticamente todas embaixadas, isso na vertente norte do bairro, em contraste com a porção sul, encabeçada pelo Cemitério São João Batista, grande parte de concessionárias de veículos, oficinas, borracharias e outros usos pouco nobres.

João Silveira, 32 anos, morador da favela da Santa Marta, funcionário concursado da Comlurb tem como área de atuação, a varrição de três ruas transversais do bairro, Eduarda Guinle, Sorocaba e Dona Mariana.

Boa parte dos moradores conhece João, sempre cantando algum sambinha, e que faz questão de cumprimentar quem com ele cruza nessa sua batalha cotidiana, para manter calçadas sempre limpas.

Não é incomum algum morador descer de seu prédio para oferecer um cafezinho, ou mesmo uma fruta, para esse dedicado e bem educado servidor público municipal.

Você pode até não saber, mas imagina como deve ser a distribuição da energia elétrica na favela, onde gatos, ou melhor, gataria se tornaram padrão, gerando constantes picos e quedas de tensão, que com o passar do tempo, praticamente se naturalizaram.

E foi assim, que da noite para o dia, João assistiu atônito equipamentos de casa: TV, geladeira, lavadeira e o microondas, que exigiram sei lá quantos meses de trabalho, descerem pelo ralo.

Mas na vida, todos estão sujeitos ao acaso. O importante nessa hora é tentar manter a calma, e aguardar a crise passar. Conversando com moradores do asfalto, João relatou esse drama momentâneo, sensibilizados, estes fizeram rolar uma rifa de um equipamento de som, doado por um comerciante.

Em menos de uma semana, João recebeu um envelope, com cerca de seis mil reais arrecadados com a rifa. Nessa hora qualquer um amolece, e com ele não foi diferente, diante de tanta gentileza da vizinhança.

Esse valor levantado daria para repor tudo que foi estragado, claro que reduzindo as exigências do padrão anterior.

Mas a maré ruim parece que realmente passou de passagem, e foi numa manhã daquelas chuvosas acompanhada de forte vento, resultando em pouca gente circulando nas calçadas do bairro, que a sorte voltou finalmente a sorrir para o dedicado João.

Foi esvaziando uma dessas lixeiras abóbora, que notou no lixo, um embrulho bem elaborado. Até desconfiou do que poderia ser o conteúdo, mas precisava confirmar, e foi numa papelaria da Rua Voluntários da Pátria, que conseguiu a tesoura para cortar aquele emaranhado de fitas durex largona, conseguiu romper a proteção, então um conhecido aroma tomou conta do ambiente.

Com um saco plástico conseguiu reduzir o cheiro, e aí sim tomou consciência que aqueles dois quilos de maconha prensada teriam bom valor no mercado.

Na volta para casa, passou pelo ponto das drogas, e indagou com Matias, amigo de infância, que agora chefiava a venda de drogas no morro quanto valia os dois quilos da erva prensada, Matias desconfiado, queria saber o porquê desse interesse repentino de João.

Quando ficou diante do fato, Matias fez uma proposta de oito mil pela mercadoria, João não titubeou, aceitando a proposta.

Dois depois ao descer as escadarias da favela viu a sinalização de Matias, com uma sacola destas de algodão, com o valor acordado.

Interessante essas peças que a vida nos prega, e melhor ainda quando se pode apreciar que a sorte nos voltou a sorrir.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 16/11/2024
Código do texto: T8197915
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