JANAINA

Em uma cidade onde as noites pareciam se arrastar como sombras, Janaína subia os degraus de sua própria existência, cada passo um lamento silencioso. A luz da manhã ainda não havia penetrado nas frestas de sua janela, e a geada se instalava como um manto branco sobre tudo que via. Era como se o mundo estivesse coberto por um véu de indiferença, e ela, uma espectadora de sua própria vida.

Nascer negra como o açaí, pensava Janaína, tinha seus desafios. A pureza aparente escondia as complexidades de um ser que, embora iluminado, sentia o peso da solidão. As noites longas eram momentos de introspecção, quando a mente se tornava um labirinto repleto de questionamentos. Era nesse silêncio que ela se permitia sentir. A seda das meias roçava em sua pele, um toque suave que contrastava com a dureza de seus pensamentos.

Retirar-se do mundo exterior tornava-se um ritual. Ao baixar a água cristalina da torneira, Janaína observava o líquido escorrendo, limpando as impurezas, assim como desejava fazer com sua alma. A cortina, uma barreira entre ela e o que estava fora, oferecia uma proteção temporária. Mas, por trás daquela barreira, a vida continuava seu curso, indiferente aos seus anseios e medos.

O belo e o transparente eram os elementos que a cercavam. O olhar de Janaína refletia a beleza do outono, com suas folhas que se desprendiam das árvores, uma dança de cores que falava sobre transformação. A lua, testemunha silenciosa de suas noites de reflexão, iluminava seus pensamentos mais profundos, revelando segredos que ela guardava até de si mesma.

Cada degrau que Janaína subia era uma metáfora para sua jornada interna. O lamento que carregava não era apenas de dor, mas também de esperança. A busca por um significado, por uma conexão que a fizesse sentir-se viva, pulsante, era o que a movia. Assim, entre os degraus e os lamentos, Janaína continuava a escrever sua história, uma narrativa de autodescoberta em meio ao caos da vida. E, em cada passo, havia a possibilidade de renascer, de encontrar a beleza que se escondia nas pequenas coisas, como a luz da lua refletida nas águas tranquilas da noite.