Jonas e a baleia.

Jonas e a baleia.

Levantou-se com uma dor e cabeça horrível, estomago revirando, e vontade de estar morto. Estava com ressaca. Sua cabeça começava a se ligar e relembrar aos poucos. Havia tomado uma vodka barata na noite passada. Sozinho no quarto em que morava. Que dia será que era hoje?

Ligou o som e foi até a porta. Notou que era dia e estava quente. Olhou para baixo e viu uma carta. Abriu-a. Era de seu emprego dizendo que havia sido demitido. Também, pudera, estava há quanto tempo sem aparecer por lá? Uma semana, talvez duas ou três, não sabiam ao certo.

Convencia-se cada vez mais de que sofria de bipolaridade. A algumas semanas atrás estava todo eufórico, havia finalmente convencido um bela ninfeta, para a qual lecionava, de que era o homem próprio para transar com ela loucamente. Ele não a decepcionou, mas se surpreendeu muito mais com ela do que ela com ele.

A menina era maluca, mostrou coisas as quais ele apenas havia lido ou ouvido alguém dizer como era. Ela lhe mostrou um mundo de perversões que deixariam Marques de Sade corado de vergonha.

Por duas semanas ele saiu com ela. Foram duas semanas de loucura. Intensa loucura. Experimentou orgias homéricas, sexo grupal e drogas poderosas. O mundo havia se tornado uma imensa bola tediosa, apenas seus encontros secretos com essa garota e seus amigos eram reais e importantes. Ansiava estar com ela a cada minuto. Não conseguia mais dar aulas, não conseguia mais ler seus livros ou termina seu romance, ele parecia tão ilusório quando imaginava o que realmente estava acontecendo em sua vida naquele momento.

Por duas semanas ele foi feliz e se sentiu vivo, fazendo parte de um jogo escondido, fazendo parte de algo maior. E o que começou como uma brincadeira acabou tornando-se serio. Muito serio.

Ela então se afastou, não atendia suas ligações. Não trocava olhares dentro da sala de aula. Não insinuava-se para ele em segredo, nem o chamava para transar no banheiro do colégio. Primeiro ela afastou-se. Depois ela desapareceu completamente do mapa. Não a encontrava na rua, em casa, na escola. Em lugar algum. Era como se aquela moça nunca houvesse existido. Seu paraíso maculado havia se destroçado. Seu Éden infernal havia acabado.

Parou de ir trabalhar. Parou de ir atender aos telefonemas. Parou com tudo que era ilusório. Queimou seu romance. Fechou-se em seu próprio mundo. Criou um casulo e se refugiou dentro dele. Ele só queria que sua musa, sua vida voltasse. Apesar de ter estudado tanto, suas teorias não serviam para nada nessa hora. Deixou-se ser consumido pela dor.

Não sabe quanto tempo ficou assim. Dentro de casa. Os dias não importavam mais para Jonas. Os massacres na áfrica e no Iraque passaram despercebidos. A exploração religiosa não fazia nenhuma diferença para ele, alegoria por alegoria, cada um escolhe a sua e seja feliz sendo explorado. Os escândalos políticos não o atraiam nenhuma atenção.

Percebeu que o mundo podia continuar sem ele. Não fazia diferença nenhuma, ele estar na sala ou não. Desistiu. O que realmente lhe importava não estava mais ao seu lado, aquele belo par de pernas e coxas e o que elas podiam fazer quando estavam excitadas, aquele belo rebolado. O jeito insinuante com que se movia, fazendo-a parecer dançar, voar. O olhar. Aquele olhar era um misto de menina inocente do interior e prostituta insaciável. Aquele olhar era fogo puro.

Encheu um copo com o que restava daquela vodka barata, acendeu um cigarro. Escutou a musica que tocava no som. Lembrou-se dela e de que talvez nunca mais a veria novamente. Chorou e, quanto mais chorava, mais sua cabeça doía. Decidiu ir tomar um banho. Tomou um longo e demorado banho. Se ainda fosse interessado em contar o tempo, diria que gastou mais de uma hora no banheiro. Foi o tempo necessário para que seu corpo melhorasse e começasse a pedir mais álcool. Ele se deu conta de que não tinha mais nada. Emprego, amante, família, respeito pelos outros e por si próprio, interesse. Não tinha mais nada.

Restava agora a ele, fazer o que as pessoas comuns fazem para agüentar o peso de uma verdade inconveniente e palpável, a insustentável leveza da vida, que acaba nos sufocando, a efemeridade da felicidade.

Jonas saiu de sua baleia e foi para o bar.

Autoria: Caputino Quaresma

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