Amarelo (nem todo girassol)
É engraçado né?!
Como as planícies encostam nos meus dedos enquanto ando descalça, e como o sol beija meu rosto enquanto o vento acaricia meus cabelos. Tenho certeza que todos estavam olhando pra mim, mesmo estando sozinha. O mundo se abria, cada vez mais, e eu entrava, sem medo, para dentro de cada cor. Meus sentidos estouram de prazer, meus ouvidos não se cansam da melodia medrosa da brisa de verão batendo nas árvores ocas. Parecia um sonho. Daqueles dignos de um filme de romance.
Sabia onde pisar, mesmo sem enxergar. Sabia aonde ir, mesmo sem nunca ter ido. Sabia como sentir, sem ter experimentado antes. Sabia distinguir a esquerda da direita, o céu do chão, as planícies verdes e as poças de água azuladas. Sabia rodopiar junto do coração, e gritar de boca fechada. Ah, tantas coisas que eu sabia, sem saber.
As casas ao longe me davam vontade de fugir, o céu escuro bem perto me dizia para voltar. Mas aquele laranja, o último raio de sol laranja, me acolhia e me fazia ficar. Cantar, pular, dançar, rodopiar, tantos verbos em um único pedacinho de sol.
Cai, levantei, gritei e me sujei. A essa hora, largada no escuro da noite, não sabia mais diferenciar o sujo do mal lavado. Mas qual a importância disso mesmo?
Calma, obstinada e centrada, voltei. Sem querer. Voltei. Com pretensão de não voltar. Mas voltei.
Queria sair, explorar, dançar, cantar novamente, gritar em uma colina bem alta, confundir o azul do céu com o azul do mar, sim, eu queria.
Calma, obstinada, centrada, e um sentimento que não rima com nada, esperançosa.
Doce, era a esperança de voltar lá amanhã, até poder fugir junto do sol, para bem longe da noite. Para longe daqui.
Enquanto isso, me contento com o amarelo do girassol.