DISPUTA INÓCUA

Pedro e João são irmãos, com diferença de apenas um ano na idade, se caracterizam por manter opções sempre opostas.

Desde os tempos de escola, enquanto Pedro se destacava pelo desempenho excepcional em todas matérias, João acabava passando, mas sempre aos trancos e barrancos. Em compensação dentro da quadra era o bicho, se transformava, sabe aquela história de entrar em campo com sangue nos olhos, foi esse sempre seu padrão.

João muito popular tanto em relação à turma do esporte, como também aproveitava sua forma descontraída de ser, e se aproximar das meninas, que assistiam seu desempenho dentro das quatro linhas.

Embora fossem filhos dos mesmos pais, frequentassem a mesma escola, nunca participaram da mesma tribo, afinal entre nerds e atletas são raros os pontos em comum.

Quando chegou o momento de definir carreiras futuras, o esperado aconteceu, enquanto Pedro se encaminhou para área de informática e práticas voltadas para a inteligência artificial, João resolveu que trabalharia com educação física.

Pedro foi estudar na PUC, universidade com incontestável excelência nessa ciência, que trabalha com inovação na análise e produção de produtos e linguagens inovadoras.

O destino de João foi a UERJ, chamado na terceira reclassificação dos resultados do ENEN.

Pela primeira vez na vida, ambos estavam simultaneamente caminhando na mesma direção, parece que ambos foram picados pela mosca da política, da direção do grêmio universitário foi um pulo para a filiação em partidos, que pelo menos em teoria, podiam ser considerados de extrema esquerda (PSOL) e extrema direita (PL), para não perder o hábito.

As divergências que sempre fizeram parte de suas vidas, agora passaram a outro estágio, principalmente depois da ascensão ao poder de um certo capitão Messias.

Os almoços de domingo na casa dos pais tiveram que ser suspenso, no último encontro quase se engalfinharam, Pedro não admitia que o mito prosseguisse sua saga, que abreviou a vida de 700 mil brasileiros, incentivando a queima de biomas e morte súbita dos povos originais e rios amazônicos intoxicados pelo mercúrio despejado indistintamente por garimpeiros.

Por outro lado, João agora convertido a uma dessas religiões neo-evangélicas, só assistia a TV Record e mesmo no Youtube, a programação usava as cores verde e amarelo, um discurso retrógrado, que agora recebia a alcunha de conservador, tendo como lema Deus, Pátria e Família.

João não saía de casa sem seus amuletos da democracia: a Bíblia e a Constituição Brasileira, seguindo as verdades, que de Brasília o capitão presidente preconizava.

No apagar das luzes do desgoverno, João se juntou a uma comitiva que partiu em ônibus fretado, para um acampamento gigante em frente à sede central do exército na capital federal.

Depois da frustrada tentativa de golpe, João foi um dos vândalos flagrados pelas câmaras destruindo patrimônio nacional, dentro do Supremo Tribunal Federal – STF.

Resumo da ópera, nosso professor de educação física, que sempre teve dificuldades acadêmicas, hoje vive de forma precária na capital portenha, com alto risco de ser deportado para o Brasil, para enfim responder por seus atos antidemocráticos e prejuízos resultantes desses atos.

Enquanto isso no Rio de Janeiro, Pedro conseguia se eleger para o primeiro mandato como vereador pelo PSOL.

Fica difícil entender como corações e mentes se deixaram ser conduzidos a um embate que em tese questionou a ciência, como se isso levasse a algum lugar.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 05/11/2024
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