Avenida
Caminhava pela avenida pensando com meus botões.
Como confeccionar um coquetel molotov, o sentido da existência; já puxando a ideia da extinção humana voluntária e como minha visão niilista mudou depois de ser pai. Acho que bebi três copos de café enquanto a TV noticiava as guerras eternas.
Ela me interrompe.
"Moço, tem isqueiro?"
Devo ter cara de tabagista, nem estava com um cigarro na mão e não é a primeira vez que acontece isso. Passam N pessoas, porém pedem um isqueiro pra mim. Enfim.
"Tenho" respondo revistando o bolso da camisa . Ela está sentada ao lado de uma farmácia com o celular na mão girando a roleta do jogo do tigrinho. Acho o isqueiro e passo, ela acende um cigarro de fumo de corda enrolado numa folha de caderno. Dá pra notar as linhas azuis no papel.
Pego o isqueiro de volta e, enquanto digo "de nada," fico pensando se não seria melhor comprar um maço de Camel do que jogar dinheiro fora naquela roleta virtual.
O ser humano é constituído por seus vícios, não seus hábitos. Eu bebo, fumo e minto de vez em quando, aposta não é minha cara. Dito isso, não julgo quem gosta.
Divaguei. Voltando à caminhada fico revivendo lembranças do fim de semana. Velhos amigos, paixões de ontem, estranhos conhecidos, noites mal dormidas, estresse e ressaca. Condições normais de temperatura e pressão.
Passo a parte mais alta do caminho, começa o declive. A caminhada fica mais agradável e convida pensamentos mais amenos. Rememoro o último capítulo do livro que terminei recentemente.
Suicidas...
É genial, mas meu orgulho me deixa com uma inveja que passa logo depois, ainda tenho tempo pra uma magnum opus.