Um encontro inesperado
Era um dia claro e muito quente, a praia estava cheia. Todos querendo aproveitar o feriado e o mar estava lindo, como sempre. Alice estava na areia sentada sob o guarda-sol enquanto suas amigas jogavam peteca próximo a ela que preferia ficar observando ao invés de jogar. Eram amigas do trabalho, e haviam combinado de aproveitar o feriado da melhor forma que pudessem, e a decisão foi unânime: vamos para a praia.
Terminaram a partida e foram se sentar junto à Alice. Mônica, que além de colega de trabalho a 5 anos, também era sua melhor amiga a bem mais tempo, percebeu que Alice estava preocupada e trêmula, além de que não estava conseguindo aproveitar e relaxar naquele local maravilhoso. Então, depois que todas se despediram e cada uma foi para sua casa, Mônica chamou Alice para tomarem um sorvete juntas. A intenção era entender o que se passava com sua amiga. Algo tinha acontecido enquanto elas jogavam, pois quando chegaram, Alice estava bem animada, diferente de agora.
Chegaram à Sorveteria Sol e Gelo, e pediram um sorvete de casquinha que é muito conhecido naquela cidade, pois além do sorvete maravilhoso, você ainda pode comer a casquinha, que é uma delícia a parte, feita com ingredientes diferentes das demais sorveterias e que surpreende no final com um chocolate derretido, de se lembrar durante a semana inteira. Então Mônica não aguentou esperar mais para desvendar sua curiosidade e falou num súpeto:
_ Alice, o que está acontecendo com você? Não estou te reconhecendo. Hoje enquanto estávamos nos divertindo e aproveitando, você ficou só debaixo daquela sombrinha, pensativa e parecia estar em outro país. Sou sua melhor amiga e você não pode me esconder. Fale logo!
Alice se assustou com o jeito que a amiga a interpelou, mas logo cedeu, vendo que não conseguiria mais enrolar também precisava muito desabafar com alguém, caso contrário, não conseguiria mais aguentar sozinha.
_ Mônica, eu preciso mesmo falar com você, preciso de sua opinião. Estou muito preocupada a algum tempo e hoje, enquanto estávamos na praia e vocês estavam jogando, aconteceu algo que me assustou. Como passavam vendedores ambulantes a todo momento, nem me atentei. Mas quando um vendedor parou próximo a mim e logo me reconheceu, ficou pálido, e eu mais ainda. Logo descobri que era o meu irmão...
Alice é a segunda de três irmãos, tendo a caçula Jenifer e o mais velho, Albert. Jenifer, tinha apenas 16 anos e ainda morava com os pais na cidade do interior. E Albert o mais velho, naquela época já deveria ter 25 anos, pois ele era mais velho que Alice 4 anos. Mesmo que não se viam a alguns anos, desde quando ele saiu de casa para trabalhar na capital, dava notícias, mas não aparecia para visitá-los. Logo depois Alice também saiu em busca de investir na sua carreira.
_ Meu irmão que eu não via a alguns anos e que pensávamos que estava trabalhando numa grande empresa, está trabalhando como vendedor ambulante, acredita? Logo que ele me reconheceu, se assustou e me disse que me encontraria e que falaríamos depois. Eu amo muito meu irmão, e não entendo por que ele mentiu para a nossa família, porque não foi nos visitar. Sentimos muito a falta dele.
Albert tinha decidido se mudar para a cidade grande, mas não conseguia emprego e teve receio de contar para a família, e decepcioná-los. Então buscou o que conseguiu para não morrer de fome, mas tinha que ser um trabalho honesto, pois não renunciaria aos valores aprendidos com seu pai. E o trabalho como ambulante, depois de passar pelas dificuldades do início, foi melhorando e ele foi investindo cada dia mais. Hoje ele tem além do sustento, qualidade de vida, que é o que ele tinha no interior.
O telefone tocou e interrompeu a conversa com a amiga, era Albert. Alice se espantou, mas ficou aliviada ao mesmo tempo, por saber que seu irmão ainda tinha seu número de telefone. Eles conversaram durante mais de uma hora, e ele explicou o que aconteceu e como se sentia. Agora eles teriam um ao outro para se apoiarem na cidade grande. Era tudo o que Alice precisava, e ele também. Sem falar na alegria que os pais ficariam quando soubessem que estavam na mesma cidade e que conviveriam novamente, um dando suporte ao outro, como cresceram aprendendo a fazer na sua cidade do interior, onde todos os dias se reuniam e conversavam debaixo do pé de jabuticaba, contando seus problemas e seus sonhos. Apoiando e fazendo piadas. Reforçando o que já sabiam: família é nosso maior porto seguro, onde podemos ser quem somos, mas que precisamos desenvolver a sabedoria de nos tornarmos melhores a cada dia.