Eu não tenho medo de chuva!
Marjorie estava deitada na porta da cozinha, do lado de fora, com as patinhas e a barriga pintada para cima. Nenhuma preocupação, nenhum medo, neste momento só o conforto deste chão quentinho.
As primeiras gotas de chuva caíram do céu. Ela abriu um pouco os olhos, mas sem coragem de se mover. As gotas foram se intensificando e Marjorie se espreguiçou e pensou: "só mais um pouco e já saio daqui".
Branquinha e Cacau são duas vira-latas, "mãe e filha", que já moravam na casa a muito tempo. Vivian na tranquilidade de um quintal só para elas, sem falar no carinho e pedacinhos de tudo que a família comia. Foi quando Marjorie, uma filhote de Beagle chegou com suas orelhas imensas, achando que era a dona do pedaço. Aí foi a gota d'agua literalmente.
A chuva aumentou e Branquinha saiu correndo, leve como uma pluma, magrela como ela só. Cacau saiu correndo atrás, mais devagar por causa do peso: "corre, senão a chuva pega a gente"! E entraram em suas casinhas. Marjorie nem se moveu. Só de pensar dava canseira: "aqui tá tão bom, só saio por pedacinho de alguma coisa".
A mãe olhou pela janela, xingou, gritou, e ela nada de sair. A mãe pegou um pedacinho de pão que havia sobrado do café da manhã, abriu a janela e Marjorie abocanhou logo: "aí sim! A chuva que se vire, eu preciso de um motivo maior para sair daqui..."