Que Cantem os Sabiás!
25.10.24
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Cada cidade tem seus sons característicos e peculiares. A nossa, megalópole de milhões de habitantes, pulsa com sonoridades inquietantes e aflitivas.
Escutasse diariamente as sirenes das ambulâncias, dos carros de polícia, dos de bombeiros abrindo caminho com elas gritando a todo vapor, o que nos deixa aflitos pela sua urgência em atender ou socorrer alguém. Algum acidentado, algum incêndio, algum roubo? O que será que aconteceu, paira em nosso imaginário cotidiano ao ouvi-las. E, a ansiedade nos abate.
Também, das buzinas e dos sons dos motores dos milhões de veículos que trafegam pelas ruas, das construções logo cedo nas manhãs com serras elétricas cortando madeira, dos marteletes quebrando concreto, das pancadas metálicas de todos os tipos e timbres, dos caminhões, das máquinas e demais. Insuportável!
Dos aviões, que decolam com seu estrondo alto, forte e grave sobre nossas cabeças no início do dia, como dos helicópteros que zunem pelos céus procurando algo, como abelhas.
Mas, o som verdadeiro desta cidade é o canto dos Sabiás-laranjeira.
Quando os ouço caminhando pelas ruas, procuro-os nas árvores, e ao encontrá-los, paro e os acompanho com prazer o seu trinar alto e longo, tirando-me do redemoinho barulhento da metrópole. Parece que levito com seu cântico, uma maravilha! Depois, o turbilhão sonoro volta a me envolver, ao pararem de cantar.
Lembro da minha infância, que os escutava logo ao alvorecer , em uma sinfonia de vários deles anunciado que era hora de acordar, como também, da chegada da estação mais bonita do ano, a primavera. Era uma delícia!
Depois, ao entardecer, voltavam a cantar, dizendo-nos ser a hora de se recolher e descansar. Deixavam-me calmo ouvi-los limpidamente.
Hoje, nessa cidade barulhenta ao extremo, não mais os escuto pelas manhãs ou ao final do dia como antes, mas somente durante o dia e pouco frequentes, talvez inibidos pela cacofonia diária e caótica da cidade, pois acredito que não se sentem mais felizes em cantar para uma população ensurdecida.
Que cantem os Sabiás!