De presente, um novo vaso sanitário

Januária procurou o dono da quitinete em que mora seu ex-marido sugerindo trocar o vaso sanitário. Um vaso de qualidade e toda a mão de obra por sua conta e risco. Um presente. O que impressionou o proprietário era a cor do vaso. Preta. E questionou o porquê. Eis a resposta.

“Mês que vem ele completa 60 anos dos quais 36 casado comigo e tivemos três filhos. Dois já formados e a filha daqui dois anos. Curso superior para meu orgulho. Digo ‘meu’ porque foi com meus recursos resultado de costuras até altas horas da noite. Dele? Nenhum tostão. O que ganhava tinha um destino: jogo de baralho. E quando faltava, emprestava e a conta era minha. Eis a opção pela cor do vaso. Para cada vez que ele o usar lembrar das coisas ruins que fez na vida. Isso para não usar um verbo feio. Sou educada sim senhor. Racista eu? Que falta de reflexão... Então que se proíba a fabricação de vasos dessa cor e que os brancos sejam vendidos somente para pessoas de pele escura...! Ele sabe que a cor negra representa luto, tristeza. Que seja seu remorso pelas coisas bonitas que ele matou. E não há necessidade de contar a ele esse nosso combinado. Com o tempo ele irá se dar conta. Ou, se Deus permitir, nos dar mais 10 anos de vida, quando ele completar os 70, eu mesma contarei. Ou, em caso de um de nós adoecer, o procedimento da minha parte será o mesmo. Pode ser que ele peça perdão. Claro que o perdoaria. Esquecer o passado? Não! Aí já é pedir demais. Obrigada pela compreensão e atenção”.