Cajueiro, Bodin, Marrom, Vó e Mainha
Agarrei no sono. Acordei em cima do cajueiro de padrinho João. Chupei caju atrás de caju; um mais doce que o outro; enchi a barriga. Mainha ia se retar, eu agora não almoçava tão cedo. Melhor ir caminhar pra ver se ajuda o tempo passar.
Passei pelas cabras de Dona Marianinha e falei com Bodin, um filhote que já me reconhecia de longe. Pulava de felicidade e a gente apostava corrida entre pinote e carreira até cada canto da cerca.
“Tá doido, menino! Cadê sua mãe pra ver isso?”, gritou a senhorinha.
“Mainha tá em casa, Dona Marianinha, não conte a ela, não!”
“E você tá indo pra onde, muleque?”
“Eu to vendo se a barriga esvazia um pouco pra ir almoçar, comi caju demais.”
“Mas, oxe! Esse menino tem é arte, viu? Vá pontar sua mãe, não, fique aí com Bodin endoidando…”
Dei adeus a Bodin e às cabras e fui pro terreiro de minha avó. Passei por debaixo dos arames e fui recebido pelas galinhas de voinha. Marrom, Pretinha, Joana e Lilica já eram velhas conhecidas minhas.
“Vocês botaram ovo hoje, gente?”
Minha avó chegou na porta e me olhou sabendo que eu estava aprontando. “Joaquim, filho de Deus, saia desses mato, menino! Corra aqui, me ajude num negócio, venha!”
“Tô indo, vó, deixe eu pegar só mais esse ovo aqui…”
Quando entrei na cozinha de voinha, tava mainha e ela com um bolo todo melado de chocolate em pó que eu adorava. Eita, é meu aniversário e eu esqueci!
Acordei. Novamente na sala de espera. Eita, frio nessa sala. Na rua o calor é de matar, aqui, é esse frio retado. Vou é me ajeitar na cadeira que eu já tava caindo enquanto dormia. A bolsa chega encheu de mijo. Xô ir trocar isso no banheiro, viu?
“Joaquim da Silva Mariano, consultório 3; Joaquim da Silva Mariano, consultório 3”