Perdeu Mané!

16.10.24

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Sentado em um vagão do metrô, lia absorto o seu livro.

Estava sozinho. Era tarde da noite e voltava para casa

depois de um dia produtivo, mas cansativo. E o livro, que

o empolgava pelo enredo, distraía-o.

Tratava-se de uma novela envolvendo um policial infiltrado

em uma gangue de traficantes. Lia o capítulo em que o

espião estava entrando em uma estação do metrô com um

dos bandidos e o traficante já desconfiando do

companheiro. A tensão pairava no ar envolvendo-o

inteiramente na estória. Lia avidamente para saber o

desfecho. No diálogo, o bandido pretendendo desmascarar

o policial, induzia-o a isso com perguntas.

– Então tu mora no Jardim Ângela. Tá tratando da venda

dos bagulhos lá com o Jacaré, né, cara?

– Jacaré não opera mais lá, tu sabe mano. Agora é o

Dumbinho. Perguntando por quê, mano? Tá desconfiado?

– Meu! Tu sabe que tem muito traíra no pedaço e tu pode

ser um, mano.

– Tá com dúvida, ligo pra ele agora e tu confere!

Sozinhos na plataforma de embarque aguardavam a

chegada da composição. Entreolhavam-se com

desconfiança. O trem chegou, parou e as portas se abriram.

Imediatamente, o bandido puxou sua arma para atirar no

outro. Este, agarrou a mão armada do traficante e pulou

com ele para dentro do vagão.

Ele, leitor, viu os dois caindo no piso metálico do trem em

uma luta desesperada. O policial segurava o braço do

bandido com a pistola em punho.

– Vou morrer, pensou assustado.

As portas se fecharam. A composição começou a andar com os

lutadores engalfinhados no chão. Ele assistia desesperado

ao embate, sozinho no vagão, sem ter o que fazer,

petrificado em seu assento e com o livro no colo.

Encolheu-se todo, aterrorizado. Vou morrer, pensava

estático e aparvalhado com o que assistia.

Os dois rolavam no piso do corredor do vagão. O bandido,

que era mais forte, conseguiu se soltar e virar por cima do

policial dando-lhe uma forte cabeçada. Deu três tiros no

infiltrado, um deles na cabeça, explodindo o cérebro que

expulsou massa encefálica pelo chão. Um horror! Vou

morrer, seguia pensando. Terrificado, apertava o livro em

seu peito. Seu coração batia desenfreadamente. Ele

transpirava muito.

O bandido, desvencilhado do policial morto, levantou-se,

olhou para ele que continuava aterrorizado em seu canto,

apontou-lhe a arma e disse:

– Perdeu mané! E disparou duas vezes.

Acordou e pulou do assento dando um grito ofegante. Os

outros passageiros, que eram dois, olharam assustados para

ele. Ao vê-los, ficou espantado e começou a tremer mais

ainda, pois eram os personagens do seu livro.

Assim que as portas do vagão se abriram, ele, apavorado,

saiu correndo desesperadamente, deixando o livro sobre o

assento. Em sua corrida enlouquecida, sem olhar para trás,

só conseguia pensar:

– Vou morrer!

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 16/10/2024
Reeditado em 18/10/2024
Código do texto: T8175107
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