O QUE FOI QUE EU FIZ?

Todos me admiravam com extraordinário respeito, tinham-me por alguém de alto conceito, imaculado ou algo semelhante. Pensando bem até sentiam pontinhas de inveja por minha firmeza de caráter. Claro, na fachada demonstravam aparente desdém, me desprezavam com gestos e olhares, e provavelmente sentiam raiva de mim porque eu nunca bebi, nem fumei ou entrei em jogatinas. Porém no fundo reverenciavam a maneira como me comportava e, lá bem no âmago, talvez desejassem ser iguais a mim. Na ótica deles, embora jamais ousassem afirmar, eu era o exemplo a ser seguido.

Até aquele dia em que cometi o erro inesperado, o pecado indizível ante o qual as pessoas cuspiam e pisoteavam. Destruí a crença e a fé que todos nutriam na minha hombridade. Eu mesmo jamais imaginei fazer algo assim, tão abjeto, um dia ou em qualquer época da minha trajetória humana. Tanto que após cair na tentação do lamaçal, sem compreender a magnitude do fato, falei para mim mesmo e minha cúmplice no ato: "o que foi foi que eu fiz?" E chorei. Ela, inclemente e consciente do abismo em que caíramos, sussurrou impiedosa: "agora não tem mais jeito, aconteceu."

As pessoas em volta de mim, estarrecidas, chutaram o pedestal onde me puseram, destruíram a estátua imaginária onde me colocavam, demonstraram todo o seu nojo e revolta. Quem esperava que eu fosse protagonista de tamanha canlhice? Ninguém. Nem eu, conforme já declinei. E agora? Familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos viraram as vistas para mim. De quem antes recebi admiração agora só vinha desprezo.

Reconheço, deixei-me levar pela fraqueza própria de muitos homens, enveredei por caminhos inadequados, sucumbi à beleza, ao carinho e ao amor de uma bela mulher. Que não era minha e nem deveria ser. Ilusão, sonho, quimera, tolice, paixão? Decerto tudo isso. Tudo que resultou na minha ruína ouço a pouco. O resultado mais catastrófico? Hoje ninguém mais quer saber de mim, perdi família, amigos e familiares. Quem me conhecia torcia a boca ao me ver, quem me amava nunca mais sentiu o mesmo. Ah, o pior, fiquei sozinho, abandonado que fui pela causadora de tudo. Desabei no conto do amor.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/10/2024
Reeditado em 16/10/2024
Código do texto: T8174776
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