Hora do parto
— MÃAAAAAAAEEEEE! A bolsa estourou às três e quinze da madrugada, — Vê se pode uma hora dessas?
— Mãe! Socorro mãe! Eu não quero morrer!
Dona Deolice acordou sentindo calafrios ao ouvir sua filha gritando por socorro e dizendo que iria morrer. Segundos antes sonhava que era rica, jovem e linda, morando na Zona Sul tomando Champanhe à beira da piscina, debaixo de um guarda-sol amarelo. Acordou desesperada e ainda mais ficou quando viu a porta do banheiro aberta e sua pequena filhinha, grávida, jogada no chão com a cabeça apoiada na mureta do box.
— Minha filha o que que aconteceu? JORGE! Ô Jorge! Ô Jorge seu filho da puta! Acorda que tua filha caiu no banheiro!
Joana não havia caído no chão, mas ao ver que alguma coisa estranha estava acontecendo consigo e com a sua bebê, sentiu-se tonta e se encostou na parede de ladrilho do banheiro. Ao se encostar foi escorregando aos poucos e quando viu, estava sentada ao lado do vaso. Resolveu deitar e pronto: o cenário de horror da queda estava montado.
Seu Jorge acordou cambaleante, morto de sono e ainda sob efeito do último copinho de cerveja que tomou com a janta. Levantou-se ainda de cueca, sem camisa e assim surgiu, virado do avesso ao lado de Deolice. — Me ajuda aqui, pega a tua filha vamo colocar ela na cama. BORA HOMEM!
Só depois de ver sua Joana em cima da cama, acordada e respirando Dona Deolice se tranquilizou, já havia passado por experiência semelhante três vezes em seus partos e sabia que tudo ali era normal. Jorge olhou para si mesmo e percebeu-se nu. Jamais permitiu que seus filhos o vissem sem as calças e não queria abrir exceção logo no dia em que estava nascendo a sua primeira netinha. Correu para o quarto, vestiu-se e depois, no banheiro ainda molhado do líquido amniótico derramado, lavou o rosto e ajeitou o cabelo: — Calma Jorginho, calma. Vai dar tudo certo com Joana. Seu Jorge, quando nervoso, falava sozinho e se tratava no diminutivo como se estivesse falando com o menino que um dia foi. O aflito avô de primeira viagem abriu a porta do quarto dos meninos e acordou Simão: — Simão cadê Pedro?