a Conexão
Ao sentar na cama, sonolento, o ar frio eriçando os pelos, olha com saudade a cidade. As luzes acesas, sem carros ou transeuntes nas ruas. Uma manhã atípica. O termômetro marca 21°. O sol poderoso que enche seu quarto todas as manhãs, está descansando. Aguardando, quem sabe, sua movimentação, um truque, talvez? Resoluto enfrenta. A hora chegou. Reescreveria sua história, como um poema: uma linha e outra, e mais outra.
Essa sensação de força e esperança o acompanha. Optara pela mudança. Escolha certa após o rompimento. As dúvidas o assaltaram no início. A proposta de trabalho, depois de todas as etapas do processo seletivo, enriquecera-o, encorajara-o.
No saguão do aeroporto, resgatando-o dos pensamentos que preenchem sua mente, um menino animado, roliço, de olhos negros e cabelos abundantes o aborda:
- Por favor, tio, abre esse pacote para mim?
Com o braço distendido mostrava um pacote de chips. Olhou em volta procurando alguém que acompanhasse aquela criança.
- Machuquei o dedo brincando, continua o menino, fica difícil pressionar.
Põe a mão no ombro do garoto, recebendo o pacote, enquanto isso seus olhos vasculham o ambiente buscando alguém que demonstre observá-los. Em vão.
Indaga - está com fome? Vai viajar para onde?
- Não é fome. Minha mãe proibiu de usar o celular ou outro jogo. Vamos para o nordeste de férias. E você?
- Vou para o sul à trabalho. Devolve o pacote já aberto. Onde está sua mãe?
Como em resposta , uma mulher alta, bastante magra, de longos cabelos está ao lado deles, olhando-o curiosa.
- Desculpe, ele está importunando-o?
A pergunta proferida diverge do olhar de censura e desconfiança, ao pousar no pacote sendo consumido pelo menino.
Eu que peço desculpas por ter atendido ao pedido dele sem consultá-la. Não me importunou de maneira alguma. Boa sorte, dirige-se ao garoto ja arrastando sua mala para afastar-se. Observa no painel que seu voto atrasara. Senta-se distante, onde uma nesga do céu escuro e chuvoso deixa-se enxergar através das vidraças. A Conexão estava minando o bem estar que sentira ao acordar. Na outra fila vê o garoto com a mãe, um olhar de desdém o insulta.
Meses depois, totalmente incorporado ao ritmo da nova empresa e aos ares da cidade que o recebera acolhedoramente, é convocado para um seminário. Encontra diversas pessoas com as quais travara conhecimento. Caminha entre as cadeiras, buscando um lugar central de boa visualização. Ao sentar é que observa. Ela o olha entre divertida e curiosa - olá, trouxe chips?