O sol abrasador queimava a terra seca, que há muito tempo não conhecia a chuva. A pequena vila, perdida na vastidão da África Subsaariana, estava em silêncio, como se o próprio ar houvesse desistido de soprar.
No chão duro e empoeirado, entre cabanas de barro e palha, um menino de olhos fundos e tristes descansava. Seu corpo era frágil, esquelético, mas sua barriga, estranhamente inchada, mostrava os sinais da fome implacável.
Ele se chamava Rajo, e sua curta vida tinha sido marcada pela escassez. Ouvia seu estômago roncar há tanto tempo que aprendera a ignorar a dor constante. Os adultos falavam sobre a guerra, sobre a seca, sobre a comida que não chegava. Ele não entendia muito desses assuntos, mas sabia que, a cada dia, o peso de seu corpo diminuía, enquanto o peso do mundo sobre seus ombros parecia aumentar.
Naquele dia, Rajo estava especialmente fraco. Sentia-se cada vez mais leve, quase como se estivesse flutuando. Os sons de tiro ao seu redor começaram a se distanciar: o choro baixo das outras crianças, o lamento das mães, os sussurros desesperados. Ele fechou os olhos, esperando que o sono levasse a dor, como sempre fazia. Só que dessa vez, algo diferente aconteceu.
Quando os abriu novamente, estava de pé em um lugar completamente novo. O calor sufocante havia sumido. Ao invés de areia seca e árvores retorcidas e animais mortos, ele estava em um campo verdejante, com grama alta e flores coloridas que dançavam suavemente ao vento. O céu era de um azul profundo, e uma luz suave e acolhedora parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo.
Rajo olhou para si mesmo e mal conseguiu acreditar. Seu corpo estava forte, saudável, estava bem vestido e limpo, não havia mais a fome que o acompanhava desde que se lembrava. A dor desaparecera como se nunca tivesse existido.
Logo, outras crianças apareceram. Eram muitas, e todas estavam felizes, correndo e brincando pelo campo. Elas a chamaram, rindo, e Rajo sentiu uma alegria tão pura que seus olhos se encheram de lágrimas. Aquela era uma sensação que não conhecia, a sensação de estar completo, de estar seguro.
Ele vê um homem ao lado dele que diz:
- Me dê um abraço meu amor!
Abraçando-o com um amor sem igual, que superava a tristeza profunda pela situação de outras como ela na Terra.
E disse:
- Acabou o seu sofrimento!
- Vai brincar meu filho!
-"Venha brincar!", disse uma menina de cabelos encaracolados, estendendo a mão.
Rajo sorriu, e pela primeira vez, seu sorriso não foi uma tentativa de esconder a dor. Era sincero. Ele correu pelo campo com as outras crianças, livre, leve. O riso delas era como música, e o ar, tão doce e puro, preenchia seu coração de paz.
Ele não sabia exatamente onde estava, mas isso não importava. Sabia, no fundo de sua alma, que havia chegado em casa. Ali não havia fome, nem dor, nem medo. Era um lugar onde todas as crianças e os demais eram felizes, onde não havia mais despedidas, apenas reencontros.
Rajo olhou para o céu e, mesmo sem entender completamente, sentiu gratidão. Havia encontrado um lar, um lugar onde nunca mais sentiria falta de nada. E enquanto corria, sentiu que ali, no meio daquele campo infinito, sua vida enfim havia começado.