A arte de ganhar dinheiro mole

No início do ano passado, fui selecionada para trabalhar como professora substituta em Timon (MA), cidade ligada a Teresina, capital do Piauí, por intermédio do rio Parnaíba. Como já mencionei em postagens anteriores, sou uma pessoa com deficiência visual e essa foi mais uma das diversas situações que corriqueiramente acontece.

Pois bem. Ao chegar na escola, no meu primeiro dia, percebi que ali se encontrava, além dos alunos, muitas mães que iam acompanhar seus filhos, visto que a instituição ofertava todo o ensino fundamental.

A medida que eu passava pelo corredor formado por toda aquela gente, era possível ouvir as especulações:

- E essa aí, quem é? Será que é funcionária? Mãe de alguém daqui, acho que não é...

Com o passar do tempo, as conjecturas foram mudando o tom:

- ou meu Deus! Como é que uma pessoa dessa anda sozinha? Será que ela não tem família?

As vozes tornaram-se familiares para mim e identifiquei que era apenas um grupo de 3 ou 4 senhoras que pareciam mais incomodadas com minha presença.

No começo de mais uma semana, fazia meu trajeto como de costume, quando uma das mulheres exclamou:

- sinceramente, não sei para que colocam uma pessoa dessa para ser professora. A dita cuja mal terminou a frase, a outra respondeu:

- Isso é só para ganhar dinheiro mole! E continuaram a falar, algo que não ouvi mais.

É evidente que ficamos chateados quando essas manifestações preconceituosas ocorrem, porque é triste constatar o quanto o capacitismo está presente em nossa sociedade. Contudo, outra coisa chamou minha atenção na fala daquelas cidadãs, fiquei pensando sobre e aqui pergunto ao caro leitor:

- Diante das mas elas da nossa educação, da falta de investimentos na área, das más condições de trabalho, sucateamento das escolas, desvalorização profissional, só para citar alguns dos vários problemas existentes, será que ser professor no Brasil é realmente a arte de ganhar dinheiro mole?