A Ladeira do Amor

09.10.24

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Caminhavam pela rua íngreme, quase que diariamente. Não se conheciam, mas sabiam que tinham algo em comum: aquele trajeto – a subida e a descida da ladeira.

Ela era morena de cabelos longos, cacheados e pretos, mas já com alguns esbranquiçados que lhe davam um charme. Não era tão jovem, talvez nos seus trinta e cinco anos. Tinha estatura mediana, corpo roliço e pernas grossas. Usava sempre a mesma roupa preta: calça de ginástica, camiseta e casaco de agasalho.

Ele era alto, corpo atlético e magro, pele bronzeada, cabelos loiros e curtos e deveria estar nos seus quarenta anos.

Usava sempre shorts azul escuro, camisa de manga longa azul-celeste e tênis com meias azul-marinho. Eram semelhantes em suas vestimentas de cores repetitivas e frequentes. Talvez fosse um traço comum em suas personalidades, a constância.

O andar dela era calmo, até pesado. A expressão de tristeza em sua face, nas paradas das esquinas para cruzar a rua, demonstrava cansaço.

Ele não demonstrava cansaço ou incômodo em suas feições, mantinha um caminhar decidido e firme.

Naquele dia, ele a viu na subida da rua, do outro lado, estava parada na esquina aguardando o sinal fechar para atravessá-la, e pensou:

– Estamos nos encontrando sempre nos mesmos horários e com as mesmas vestimentas. Acho que ela tem “cara” de Helena.

No mesmo instante ela o vê e o encara com um olhar breve, meio furtivo e fala para si:

– Cruzamo-nos quase que todos os dias nesta ladeira, com as mesmas roupas, é muita coincidência. Acho que deve se chamar Heitor.

O semáforo demorava a abrir, eles se entreolhavam como que dizendo que podiam muito bem se conhecer, porque se encontravam quase que diariamente naquela rua. Ele sorriu, ela retribuiu. O sinal abriu, ela atravessou a rua e ele foi ao seu encontro.

– Oi, tudo bem? – diz ele.

– Tudo!

– Sempre nos cruzamos neste caminho, não é mesmo?

– Pois é, ora eu subindo e você descendo, ora eu descendo e você subindo.

– Qual é o seu nome? – pergunta ele.

– Helena!

Ele surpreso não acredita ter acertado o nome dela.

– Não acredito! Eu achei que era esse o seu nome e você me confirmou, que coincidência, não?

– É mesmo? Puxa vida!

– Agora só falta você acertar o meu.

– Olha, eu te olhando agora a pouco achei que tinha “cara” de Heitor, acertei?

– Acertou! Incrível! Não é possível! Temos muita coisa em comum, não acha?

– Temos Sim! Impressionante mesmo!

E assim se conheceram, se enamoraram e se casaram. Tiveram filhos e seguiram mantendo a rotina do sobe e desce naquela rua que nomearam de: a ladeira do amor.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 08/10/2024
Reeditado em 10/10/2024
Código do texto: T8169198
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