Nono andar

Era uma noite fria, final do mês de Julho 2024, na verdade fazia frio porque estava chovendo, uma garoa fina. Eu estava sozinho, como sempre fui e sempre estive, o quarto estava escuro, um silêncio doloroso, então em meio aquela penumbra, decidi olhar pela janela, morava no nono andar, as janelas do meu apartamento não tinham grades, então me debrucei na janela e pude ver ali de cima parte da cidade, onde morei por tantos anos, toda iluminada, podia ver o movimento das pessoas, podia ouvir o burburinho, barulho das avenidas movimentadas daquela região, fixei meu olhar para um prédio, com certeza maior que esse aqui, muitas luzes acesas, janelas abertas e movimento, muito movimento, acabei me debruçando ainda mais na minha janela, olhando atentamente aquela rotina, crianças brincando, em algumas janelas pude ver casais talvez se preparando para o dia seguinte, fazendo seu jantar, televisões ligadas, pessoas cuidando de suas vidas, mesmo de longe pude ouvir algumas risadas, eram dos vizinhos aqui do prédio, do outro lado da rua, acho que estavam ali passando o tempo, jogando conversa fora, rsrs chega dei um suspiro, me lembrei de quando eu saia com meus amigos, as vezes sem nem saber para onde íamos, muitas vezes sem um puto no bolso, mas a gente era feliz sabe? Éramos muito felizes... Porque as coisas tem que ser assim? De repente a vida da gente muda, e cada um vai pra um lado... Enfim, são coisas da vida, a gente nunca pensa que um dia possa ficar só, mas isso são consequências, são frutos que plantamos lá atrás e que mais pra frente vamos colher... Senti uma lágrima rolar em meu rosto, a tanto tempo que meus olhos não derramavam uma lágrima... Olhei para baixo, meu coração parecia que ia sair pela boca, tãoo alto, pode não parecer, mas o nono andar é mto alto, nenhuma alma viva, nenhumaaaa alma viva... Respirei fundo, uma coragem tomou conta de mim, sentia que podia flutuar, olhei para o vazio do meu quarto, finalmente essa noite eu iria dormir em paz, como a muitos anos eu não conseguia dormir...