Voltando pra casa

- Oi mãe... que horas são aí?

- Quase meia-noite, Darryon.

- Ah mãe, desculpe... esqueci do fuso horário. Aqui são duas horas a menos...

- Tudo bem, filho. Quando é que você volta?

- Sexta-feira à noite, depois que anunciarem a premiação.

- Fiquei esperando você ligar ontem... dormi com o telefone do lado da cama.

- Puxa mãe, desculpe, desculpe... eu sei que prometi ligar, mas... estava bem cansado depois da viagem. Fui pro hotel e apaguei.

- Tá bom, filho, não estou te recriminando; só disse que pus o telefone do lado da cama para o caso de você ligar e eu ter cochilado ou algo assim.

- Certo, mas não vai acontecer de novo. Eu vou ligar assim que chegar no hotel na sexta. Aliás, melhor, ligo todo dia às seis da tarde, até voltar.

- Seis da tarde aí ou seis da tarde aqui?

- Seis da tarde daqui. Vou ligar, prometo!

* * *

- Mãe?

- Darryon? Faz dois dias que não me liga, fiquei preocupada...

- Ei mãe, desculpe... as coisas foram meio corridas por aqui... e a cerimônia de premiação se estendeu um pouco demais... mas tenho boas notícias: eu ganhei!

- Ganhou?!

- Seu filho é oficialmente o Estudante do Ano da Associação Americana de Cabeleireiros!

- Meu Pai do Céu!

- Nunca pensou que eu fosse chegar tão longe quando me colocou para trabalhar na Barbearia Foster, não é mãe?

- Estou me beliscando, porque ainda não estou acreditando no que você disse, Darryon. Você ganhou o prêmio? Na sua primeira participação?!

- Mas que pouca fé é essa, dona Joyce? Claro que ganhei o prêmio! Vou levar o troféu para você ver, na segunda-feira... pode separar um local na estante da sala!

- Mas você não ia voltar hoje?

- Ah, mãe, está tarde. E com o prêmio, recebi vários convites para dar entrevistas à imprensa local e comparecer em eventos... o senhor Foster também pediu para que eu aproveitasse o fim de semana para divulgar a barbearia; ele vai me pagar um extra pra fazer isso. É uma oportunidade de ouro!

- Mas filho... achei que íamos comemorar o seu prêmio juntos...

- E vamos, dona Joyce! Assim que eu voltar pra casa... eu prometo!

- Mas você vai me ligar? Estou com saudades, filho.

- Claro que vou mãe! E quando eu voltar, vamos passar um fim de semana inteiro juntos, comemorando! Vou te levar para jantar, dona Joyce!

A mãe de Darryon sorriu ao desligar o telefone, mas era um sorriso triste: ela sabia que muito provavelmente o filho iria esquecer da promessa que acabara de fazer. Como esquecera em todas as vezes anteriores...