A MESTRA
Dedicava-se muito ao seu trabalho. Gostava de lidar com crianças e pessoas.
Acreditava que, sendo professora, exercia uma grande missão. O magistério, para ela, não era somente uma profissão, mas quase um sacerdócio.
Seu marido e seus filhos reclamavam que ela não lhes dava a atenção devida: só tinha olhos para seus alunos, para suas correções de provas e preparação de planos de aula.
Sua remuneração era insuficiente para o grande trabalho que exercia. Vivia com as contas atrasadas.
Todavia, nada disso a fazia desistir de seu trabalho: na sala de aula se sentia bem, lá podia esquecer os problemas do cotidiano, o dinheiro contado, as discussões familiares e fazer o que mais gostava: ensinar e também aprender com seus alunos. Esta parecia ser a razão da sua existência.
Muitos já tinham sido seus alunos. Alguns se desviaram, indo para uma vida de crimes, mas a maioria havia se tornado homens e mulheres de bem, muitos pais e mães, cujos filhos também foram seus alunos.
Ela sempre dizia:
- Apenas planto uma semente. Se ela irá germinar, não caberá somente a mim.
E assim seguiu, anos e anos, lecionando, fazendo o que mais amava. Parecia entender os seus alunos e isto a tornava querida por todos.
E durante uma aula, sentiu-se mal. O peso da idade já se fazia sentir. Foi obrigada a se aposentar. Parou, contrariada.
O tempo passou.
Numa tarde, foi chamada à sua velha escola. Não entendia o motivo? Fizera algo errado? Iriam cancelar a sua aposentadoria?
Lá chegando, observou que o auditório estava repleto de pessoas. O que seria? Por fim, uma moça a levou até o palco, onde foi aplaudida de pé. Todos eram seus os ex-alunos, com seus filhos e alguns até com netos. Todos ali estavam para homenagear a professora tão querida.
A velha mestra não conteve o pranto. No fim, seu trabalho fora lembrado. Recebia, ainda que com certa demora, o que tanto lhe faltara e que todos necessitam: reconhecimento.
2003