Ela Ficaria Boa Na Pista de Dança

À primeira vista, eu queria que ela desviasse os olhos de mim. No entanto, ao fitá-la, percebi que já não queria mais isso. Havia algo no silêncio que ela mantinha, um convite disfarçado, que me desarmava. Não era justo, pensei, enquanto seu olhar frio e seus ombros tensos despertavam em mim sensações que oscilavam entre o estranho e o sedutor. Eu não sabia ao certo o que ela queria — um romance? Um lance? Algo mais profundo?

Diferente das outras, ela não dançava naquela pista suja e mal frequentada. Achei um desperdício. Ao contrário das demais, ela se destacaria, dominaria o espaço com facilidade. Sua presença era inegável, impossível de ignorar. Enquanto ela permanecia imóvel, o DJ seguia seu set, as outras continuavam se movendo, e muitos sonhavam com a chance de levar alguém para casa. Eu era como eles, mas havia uma diferença: eu não sonhava com qualquer uma, eu sonhava com ela. Mas, como na maioria das vezes, sonhos raramente se realizam. Este, eu já sabia, não seria uma exceção.

As luzes da pista brincavam com minha percepção, e logo percebi que seu olhar não estava fixo em mim, como eu havia imaginado. Era apenas uma ilusão. No instante em que tomei consciência disso, ela se levantou. Seus lábios se moveram devagar, e pela leitura que fiz, o bartender — exagerado e pomposo — oferecia-lhe um Smirnoff tropical em troca de seu número de celular. Achei que a havia perdido para aquele tipo de galanteador previsível. Mas, ela sorriu de canto, um sorriso vagaroso, recusando a oferta com um gesto sutil. E, antes de se afastar, seus olhos encontraram os meus por um instante, rápidos e intensos, deixando algo em mim aceso, queimando de curiosidade e desejo.

Ela pegou a bolsa com uma calma que parecia provocação, levantou-se lentamente e começou a caminhar em direção à saída. O salão, de repente, parecia menor, abafado pelo som da música e o peso de algo não dito. Eu deveria ter seguido seus passos, talvez teriam dito algo. Mas fiquei ali, imóvel, assistindo-a partir, sentindo o calor do momento ainda pairando no ar. Talvez eu nunca soubesse o que ela realmente queria, ou talvez fosse apenas medo de descobrir. Sonhos são assim: flutuam entre o que desejamos e o que deixamos passar. Para mim, essa noite havia terminado. Ou talvez, de alguma forma, tivesse apenas começado.

Campos Matheus
Enviado por Campos Matheus em 21/09/2024
Código do texto: T8156737
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