Esperança

Interior de Santa Catarina, mês de fevereiro.

Na pequena cidade rural, Mariano arrumava sua trouxa para dirigir-se até a capital, onde, quem sabe, teria mais chances.

Seguiu os conselhos da mãe, D. Ana, iria estudar pra não ter que passar a vida plantando bananas, como o coitado do pai. Apesar da grande admiração que tinha pelo velho, sabia que poderia ter um futuro diferente e proporcionar mais tranqüilidade para sua família também. Rapaz esforçado, passou no vestibular na Universidade Federal, no curso de Agronomia.

Carregou consigo as roupas, um calçado, a fotografia da família, e a “cucna” de banana que a mãe havia preparado. Levou também a esperança de logo encontrar um emprego, antes que o pouco dinheiro que conseguiu dispor terminasse.

Abraçou o pai, segurou a emoção, o velho já estava abatido demais.

Beijou a face da mãe, não conteve a lágrima que teimou em cair.

Ergueu o irmão mais novo no colo, deu-lhe um apertão na bochecha e delegou que cuidasse de tudo enquanto estivesse fora.

Despediu-se de todos e avisou que estaria de volta para a ceia de Natal.

Desembarcou no terminal rodoviário de Florianópolis.

Cidade linda, clima agradável. Estava começando a achar que fizera a opção certa.

Comprou um jornal no Mercado Público, sentou-se em uma das mesas e pediu uma água mineral.

“Precisa-se de servente de pedreiro, garçom, frentista, manobrista...”

A cidade parecia oferecer muitas oportunidades. Ao saciar a sede, dirigiu-se até a pensão na qual já tinha reservado um quartinho. Lá chegando, descobriu que o quarto não era individual. Não quis reclamar pois já estava exausto da viagem e pensando bem, poderia ser uma oportunidade de fazer uma nova amizade.

- Venha, Mariano! Venha conhecer o seu quarto e o seu companheiro! Suba!

A dona da pensão, D. Úrsula, uma senhora gorda e baixa, parecia ser boa pessoa. Ao conversarem por telefone anteriormente, Mariano já havia pensado assim.

- Você vai gostar de seu companheiro. É o Sr. Helmuth, ele é professor na universidade.

- Professor? Que bom! – Mariano estava mais satisfeito.

Chegando a porta do quarto, o Professor Helmuth já os aguardava.

- Olá, Mariano, muito prazer! Estou satisfeitíssimo em partilhar o quarto com você! Soube que teve uma ótima colocação no vestibular, parabéns! Entre, fique a vontade!

- Prazer, professor. A satisfação é toda minha.

D. Úrsula os deixou conversando e eles nem lembraram-se mais dela.

O Professor Helmuth era um senhor de meia idade, calvo, franzino, simpaticíssimo, sem família, sem esposa, sem filhos. Dedicou-se a vida toda à educação, sempre estudou muito, era mestre em História da Arte. Sentia prazer em conversar com os jovens, especialmente aqueles que demonstravam interesses na matéria em que lecionava.

Gostou muito de Mariano, menino simples, ingênuo, do interior. Muito inteligente e educado.

Helmuth estava mesmo precisando de alguém para ajuda-lo a organizar a sua balbúrdia. Mariano encontrara ali mesmo, no seu quarto de pensão, o seu primeiro trabalho na capital. Era o suficiente para pagar as despesas do mês, e ainda sobrava uns trocados para enviar para a mãe. Além de poder conhecer muito sobre Arte, matéria a que jamais tinha sido apresentado.

E assim foi no decorrer do ano.

Helmuth nunca tinha tido suas coisas tão bem organizadas e programadas.

Mariano adorando o curso, os colegas de classe, as garotas bonitas e despojadas, muito diferente das que conhecera até então. E uma saudade imensa da família.

Período de Natal. A cidade linda, iluminada!

Mariano ajudou o professor a encerrar seus afazeres do ano letivo e os dois partiram para a casa do rapaz , ansiosos para o encontro familiar.

O Professor emocionou-se com a simplicidade e a alegria da família.

Agora entendia porque, por tantas vezes, surpreendeu Mariano em lágrimas ao contemplar a foto dos familiares. Helmuth entendeu que aquele era o verdadeiro amor, o verdadeiro sentido da vida, o real sentido do Natal.

E D. Ana agradeceu ao Senhor por trazer de volta o seu filho amado, e o conforto para o seu coração de mãe. Este, sempre aflito, mas repleto de esperança ao olhar para os olhos radiantes do filho.

Catia Schneider
Enviado por Catia Schneider em 06/12/2005
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