Memória do tempo.
Memória do tempo
Era um plátano enorme. Diziam os mais velhos que no tempo da sua meninice já era grande.
Debaixo da sua frondosa copa, gerações tinham sentido o conforto da sua sombra depois de um dia de trabalho, calcorreando caminhos enxada ao ombro, trabalhando desde o sol nascer até que a luz sol não existia mais.
Ao mesmo tempo que a idade avançava mais e mais tempo os mais velhos iam passando o tempo no aconchego de sua sombra.
Aí se contavam histórias daquelas vidas sem história, histórias de vida e canseira, de amores, de casamentos de começos de vida. Vida duríssima, Mas vida. Ali se recordavam as romarias de outro tempo.
Pouco a pouco iam rareando aqueles que bem diziam da sua acolhedora sombra. Para muitos era a única amizade que ainda havia.
Todos os anos se repetia a mesma cerimónia. A primavera a cobria de folhas, a companhia das avezinhas contava seus hinos de agradecimento ao milagre da natureza, bo milagre do renascimento de mais um ano de alegria.
Todos os anos havia a lembrança de mais um amigo que não aparecia. A própria árvore ia envelhecendo. Das suas raízes já não corrias com a mesma alegria o sangue que a prendia á vida.
Muitos daqueles ramos outrora viçosos, já não se cobriam de verdes folhas. Ano após ano eram menos aqueles que debaixo dela dormitavam o sono dos justos. A própria árvore ia desfalecendo, perdia a alegria e a juventude. Nesta Primavera já não se cobriu de verde, de esperança, Não deu sombra.
Amigos já os não tinha. Seria a última a partir.
N o meio do terreiro, só, abandonada por tudo e todos, os ramos secos como braços nus, sem aquela seiva viçosa que lhe dava vida levantados para o céu como mãos piedosas, diziam apenas. Piedade Senhor!
Não chorava, porque as árvores velhas morrem mas não choram!