A DANÇA DO AMOR

Noite de festa na casa do Roque, pintor abstrato e grafiteiro que morava em um prédio antigo, de seis andares, no centro de Vitória, elevador precário e foi nesse elevador que Gael e Viviane se conheceram.

Gael é um estudante de comunicação que morre de amores por Cléo, sósia da  atriz espanhola Clara Lago, na beleza e na simpatia, tanto que os amigos de Gael dizem:

“A doida da Cléo não é pro seu bico’, porque para a turma de fracassado, maconheiros e bebedores de cerveja da federal quanto mais linda mais doida.

Viviane é uma artista plástica de mais de cinquenta anos que aparenta uns quarenta, dedicada e fiel somente ao seu magnífico cirurgião plástico, coroa impressionante que lembra uma diva do cinema, talvez Katharine Hepburn, pelo menos foi o que Gael pensou.

-Tudo bem ai? – gritou alguém lá de cima.

Gael respondeu:

-Tudo, vai demorar? - perguntou Gael.

-Vinte minutos, os bombeiros estão vindo – disse a voz.

Eles se apresentaram, apesar de estar na mesma festa não se conheciam.

Gael disse:

-Roque colocou um tango, está alto, ele curte.

-Você dança? – perguntou Viviane.

-A minha mãe me fez aprender – disse Gael.

Viviane se aproximou, Gael colocou a mão na cintura dela e começaram a dançar, "Quizás, Quizás, Quizás", perfeito e está relacionada com o compositor cubano Osvaldo Farrés, que escreveu a canção e a letra original em espanhol em 1947 .

Existem músicas que podemos sentir o que elas transmitem, até o perfume, músicas que misturam os sentidos, músicas que são feitas para dançar e faz seu coração bater no ritmo do amor, tango é sensual. Quando a música terminou Viviane disse:

-Você é um dançarino muito bom, sinto a arte em você, olha que trabalho com isso, transformo sucata em arte – Viviane mudou de posição, a fenda no meio do vestido azul transparente abriu e os olhos de Gael foram no detalhe, Viviane estava nua por baixo daquele vestido fantástico, ela percebeu o olhar sacana, ignorou e perguntou:–Você é amigo do Roque?

-Estou com a Cléo, nós que fazemos os vídeos publicitários pro Roque – disse Gael.

-Cléo é gata, né? – disse Viviane e olhou novamente para o celular e depois para Gael, então foi Viviane que olhou para ele com olhos de desejo, ela o achou másculo de terno e gravata borboleta, estatura moderada, talvez mais baixo que o tolerável para os padrões de Viviane e definitivamente mais cheio, ela perguntou:

-Você brincou dos joguinhos de perguntas capciosas e sínicas do Roque do tipo: do que mais ama e do que mais odeia, me fala? - disse Viviane.

Balançou a cabeça negativamente.

-Mas vou dizer pra você o que mais odeio e o que mais amo agora bem aqui: odeio não poder fumar todo dia sem que os outros fiquem falando que vou morrer de câncer, e o que me faz feliz, fumar todo dia em todo lugar, inclusive aqui. - disse Gael.

Viviane deu uma gargalhada poderosa e disse:

-Minha vez.

-Sua vez. - Concordou Gael que ascendeu um cigarro, deu pra Viviane e depois ascendeu outro pra ele.

-O que odeio é ser julgada pela minha bissexualidade - ela deu uma tragada antes de continuar – Amo a arte, arte que vem do lixo, arte que vem da rua.

Gael riu e disse:

-Jogo doido esse, um cara ficou pelado a festa inteira porque ele ama ficar pelado, ô visão do inferno.

Viviane fez uma careta de nojo e acrescentou:

-Você viu uma mulher que tatuou partes corporais de pessoas que ela já ficou, ela tatuou inclusive aquela parte...

-Sei que para os joguinhos do Roque tenho uma frase boa de um escritor não convencional - ”Se você revelar tudo, contar cada sentimento, pedir compreensão, você perde algo crucial para o seu sentido de si mesmo. Você precisa saber coisas que os outros não sabem. É o que ninguém sabe sobre você que permite que você se conheça” é o Don DeLillo . - disse Gael.

-Don DeLillo! Até que gosto, o problema é que nunca terminei de ler um livro dele, começa bem e depois me deixa deprimida - disse Viviane e completou - leio pouco. Sou visual.

-Sim eu sei que hoje em dia o celular manda, ler é uma das poucas coisas que não da pra fazer vendo o celular, por isso tem poucos malucos ai com hábito de leitura – Gael apontou para o celular de Viviane – por exemplo, você não para de olhar para o celular, ele define o seu momento.

-Uma mensagem para uma pessoa importante ainda não chegou ao seu destino- disse Viviane.

-Nem me fala, porque hoje fui ignorado pela minha pessoa importante – disse Gael .

-Sobre Cléo? Ai Gael o certo as vezes é inimigo do bom – Viviane levou a mão a boca – ela é doce, perfeita pra você, mas só se não for tão dramático e tão carente.

Viviane se aproxima de Gael, toca no cabelo dele, na sua face, e o beija demoradamente. Gael tem uma sensação seca, muito bom, ele fica tenso, segura o corpo dela firme sente que a proximidade é como fogo queimando, não vai conseguir parar, sua mão vai até onde consegue alcançar, ai ela se afasta.

-Suas mãos são deliciosamente perigosas! - disse Viviane sorrindo.

-Você me fez perder o rumo – disse Gael.

-Não sigo regras, senti você carente, com esse olhar de cachorro perdido na chuva, então aconteceu – Viviane sorriu – desculpa a franqueza, o beijo pra mim é a simples resposta sensual, talvez Cléo não seja tão livre, quem sabe?

A porta do elevador abriu, um bombeiro magrelo disse um: “que merda é essa, vocês estão fumando na porcaria do elevador?” Viviane ignorou o bombeiro, disse um “adeusinho” e não olhou para trás.

A internet voltou.

Gael viu no celular a resposta de Cléo: “estou no terraço, vem vamos beber e fumar até amanhecer” ele subiu correndo pela escada.

-Onde estava? – Cléo perguntou, o coração de Gael estava disparado.

-Você não viu que fiquei preso no elevador com a Viviane – disse Gael.

-Cacete! Não me diz que ela te atacou? – disse Cléo sorrindo – ela é muito louca, dizem que ela transou com o avô do Roque só pra saber como era transar com o cara velho.

-Ela me beijou – disse Gael, falou de forma humilde e sincera como alguém que ama e quer dizer sempre a verdade.

-Ela é boa nisso, ela te hipnotiza com aquela cara cheia de Botox e cinquenta cirurgias plásticas, chega perto com o perfume mais gostoso e caro do planeta, cinquenta tons de cinza da terceira idade – Cléo deu uma tragada longa no cigarro e disse bem séria – você acredita que ela me deu um beijão de língua aqui mesmo nesse terraço? Vou ser sincera com você Gael, minhas pernas ficaram tremendo.

-Você está me zoando? - Gael olhou nos olhos de Cléo e disse - Cléo seja franca comigo, você beija todo mundo ou nosso beijo foi especial?

-Ficou doido, fumou maconha? - disse Cléo – que merda de pergunta é essa?

-Viviane jogou isso na minha mente, depois de me beijar, e o beijo dela não é nada perto do seu – disse Gael envergonhado.

-Pois o seu não chega aos pés do dela, tudo bem vamos repetir muitas vezes, sou boa professora – disse Cléo e beijou Gael que se pudesse diria que suas pernas estavam tremendo, porém na cachola do Gael ainda estava a dúvida se Cléo estava zoando ou tinha beijado Viviane.

JJ F SOUZA
Enviado por JJ F SOUZA em 07/09/2024
Reeditado em 08/09/2024
Código do texto: T8146578
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