Tudo muda
As coisas não duram para sempre. Soa até infantil falar isso. É claro que nada dura para sempre, mas a gente esquece ou finge esquecer. Pessoas, coisas, aquele bichinho de estimação, tudo tem um fim. Aquela tão esperada viagem, o final de semana de folga prolongada, o filme que você esperou ansioso para estrear, aquela roupa favorita, aquela comida gostosa que você preparou para comer com alguém especial, o trabalho chato, a dor de cabeça, o dinheiro, a falta de dinheiro, a dor nas costas, o relacionamento.
O tênis novo fica velho, a flor do vaso morre, a criança cresce, o celular dá pau, a tinta seca, o livro rasga, as folhas da árvore caem, a água evapora, a música acaba. Tudo muda, tudo sempre muda. Eu sei, você sabe, todo mundo sabe, mas como num pacto secreto, ninguém fala sobre isso. É estritamente proibido falar da morte, do fim, da separação, dos desencontros, da finitude. Não pode falar do azar, é tabu, como se não falando fosse alterar essa que é uma das maiores, senão a maior, verdade imutável de toda nossa existência. Tudo acaba, tudo muda, tudo morre. Tudo, todos.
E isso não necessariamente é ruim, não precisa ser triste. Tendo consciência de que tudo é impermanente, temos a oportunidade de aproveitar com intensidade os momentos: ouvir com atenção as pessoas, dizer como você se sente estando com a pessoa amada, degustar com calma a comida preparada por seu amor, escutar com atenção cada palavra daquela música favorita, captar cada detalhe da cena do filme, estar no presente, aqui e agora. Foda-se o depois. Não vai ter um depois em algum momento.
"Não deixe nada para depois, não deixe o tempo passar."
O tempo passa.
As coisas mudam.
As pessoas mudam.
As pessoas morrem.
Eu, você, o seu cachorro, o seu Antônio motorista do ônibus, todo mundo vai deixar de existir em algum momento.
Então, por que deixar de aproveitar o momento de agora?
Até quando você vai ficar aí parado, hein?