O roubo da galinha choca

Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 27 de agosto de 2024

Houve uma época em que era comum toda casa que ostentasse um bom quintal, seus proprietários mantinham criação de animais, para satisfação pessoal e alimentares. A preferência era por galinhas, dada à facilidade de manutenção e baixo custo. Geralmente o plantel não passava de quinze aves, principalmente em áreas pequenas. Já em sítios maiores, tinham números mais elevados. Eram criadas soltas, o que aumentava a rusticidade e adaptabilidade a clima quente, melhorando a resistência a algumas enfermidades. Como não havia ração industrializada, a alimentação constituía-se de milho, utilizando-se, também, da ração oferecida pela vegetação e restos de comida não consumidos, pelos seus criadores.

Dona Josefa era uma modesta criadora e seu plantel não passava de dez galinhas. A área era pequena, mesmo assim, sua dedicação e cuidado eram enormes. Todos os dias ia até o quintal, colocava água e milho para a sua criação. Era a ocasião de verificar as que estavam prestes a iniciar o período da postura, e quais as que haviam suspendido a postura, e precisava chocar seus ovos. No primeiro evento, ela as apalpava e, se positivo, eram separadas, colocadas em um pequeno cercado, pois precisavam ter sua alimentação aumentada. Para o choco, que levava 21 dias, preparava, cuidadosamente, uma “cama”, com palhas secas e penas de outras galinhas.

Naquela manhã friorenta, às sete horas ela pegou a galinha que estava chocando seus ovos, amarrou um pé da penosa a uma pedra e a colocou na porta de sua casa, para a “pobrezinha” se esquentar um pouco e levar calor para o ninho que estava chocando. Feito isso, era hora de começar a fazer o almoço, dirigiu-se à cozinha, só voltando trinta minutos, depois.

Na hora prevista de recolher a galinha, percebeu que ela não se encontrava no local deixado. Saiu de casa em casa, perguntando se alguém tinha visto sua galinha. Já cansada e quase desistindo, apareceu uma mulher, que dedurou um morador da outra rua:

─ O seu Olavo, da casa azul, aí da outra rua, passou em frente de minha casa, carregando, em um carrinho de mão, uma galinha com os pés amarrados em uma pedra.

─ A que horas foi isso? – perguntou dona Josefa.

─ Logo cedo, acho que às oito horas, respondeu a mulher. Eu até falei pra ele: ─ Barata a feira, num é?

O que ele, desconfiado, nervoso, respondeu: ─ Eu comprei na feira, não foi roubada!

─ Sei! Mas hoje nem é dia de feira, respondeu a senhora, rindo.

O homem aproveitou o descuido da mulher, apressou-se em deixar o local daquele bate-papo. Antes, disse alguns impropérios:

─ Essa biscate, na rua a essa hora, deve estar a procura de macho. E desceu pela outra rua, onde morava.

Agora, sabedora do destino de sua galinha, dona Josefa falou para a vizinha, que ia até a casa do ladrão, para tirar satisfação. A denunciante informou que também iria, para testemunhar sobre o ocorrido. A dona da galinha agradeceu e combinaram de irem às dez horas, quando a mulher do desgraçado já estaria preparando o almoço.

No horário combinado, as duas começaram a subir a ladeira da rua onde o malfeitor morava. Ao chegarem perto da casa azul, identificada pela acompanhante de dona Josefa, como sendo a casa do “mardito”, ele que estava na porta da casa, tentou escafeder-se. As duas, a plenos pulmões, gritaram:

─ Espera aí, seu ladrãozinho de meia tigela!

Como tinha algumas pessoas na rua, àquela hora, o homem entrou em casa, tentou fechar a porta, mas as duas mulheres colocaram o pé, impedindo que ele tivesse êxito. Sua esposa gritou da cozinha, perguntando o que estava acontecendo, ele não respondeu. As duas, dando uma de policial, foram ao encontro da mulher do safado, e contaram o que estava acontecendo. A amiga de dona Zefinha, foi até o quintal da casa e viu algumas penas em uma lata do lixo. Eram as penas da galinha roubada.

Depois de saber o que o marido havia feito, pediu desculpas para a verdadeira dona do galináceo, prometendo que pagaria logo mais à tarde, após ir ao banco, retirar o dinheiro, pois era segunda-feira e ela não tinha nenhum centavo em casa. Concluiu, perguntando o preço daquela bem-criada e gostosa galinha, pois já experimentara o seu sabor.

As duas voltaram para suas casas, pois não estavam interessadas em saber o que iria acontecer com o meliante.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 27/08/2024
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