Inteligência Emocional
O espaço de mais ou menos 200 metros quadrados estava tomado por pacientes que, impacientes aguardavam sua vez de atendimento. O sinal sonoro do painel de chamada das senhas já se basta irritante. Espirros aqui, tosses ali, uma criança ensaiando um choro manhoso, outra correndo, gritando e chacoalhando os assentos das pessoas enquanto sua mãe se compenetrava na barra de rolagem do Instagran, no celular.
Dênis entrou, foi até o totem e imprimiu sua senha. Aproximou-se de uma das recepcionistas.
- Bom dia. O doutor Maurício atendente nesse pavimento?
A moça guardava uma expressão petrificada. A simpatia comparada a de um examinador do Detran.
- Qual a especialidade?
Talvez exatamente pela [falta de] simpatia da atendente, Dênis experimentou um incômodo lapso de memória. Demorou alguns eternos segundos para responder:
- Ortopedista.
- Sim. - Ela retornou lacônica.
Ele procurou um assento e alguns "ding-dongs" depois era chamado justamente pela mesma funcionária. Sorrindo, ele se desculpou:
- Falei errado: é o doutor Vinícius!
Mas a mal humorada não se dignou a encará-lo, mirando a filipeta de atendimento fuzilou:
- Eu chamei o 112, o senhor é o 122.
- Meu Deus! Desculpe!
Dênis voltou encabulado para a sua desconfortável cadeira. Alguns minutos depois outra funcionária o atendeu. Com interesse, cordialidade e bom humor. Quase duas horas depois, saindo da consulta e apalpando os bolsos da jaqueta em busca da chave do carro, encontrou um pequeno bombom embrulhadinho num dos bolsos. Lembrava-se agora: na tarde anterior a filha o presenteara. E, ele, sem ter como degustar o mimo (uma refinada guloseima importada) naquele momento, jogou-o dentro do bolso. Por não haver outra opção, passou novamente pelos guichês das recepcionistas, quando ocorreu-lhe dirigir-se à primeira, a antipática.
- Um agrado pra você, moça, aproveite depois do almoço.
Mesmo com um ar desconfiado, ela pegou o bombom, agradecendo segundos depois, com um sorriso amarrado. Sua vizinha de guichê, que tão bem havia atendido Dênis, observava de "rabo de olho" enquanto realizava outro atendimento. Ele percebeu, e buscou sua compreensão com os olhos. Mas ela o tranquilizou com um sutil movimento dos lábios, num sorriso encantador: "Eu sei".