OVELHAS
Henrique Valença sempre foi um nome reverenciado em círculos sociais e políticos. A mídia o pintava como um jovem magnata benevolente, um verdadeiro outsider que usava sua fortuna para promover causas nobres. Era visto como um filantropo. Suas campanhas ambientais, seus discursos inflamados em defesa dos direitos das mulheres e seu apoio a grupos sociais eram amplamente aclamados. Mas, por trás dessa fachada reluzente, a verdade estava escondida nas sombras.
A história começou com a fundação do Banco Valença, que prometia revitalizar regiões empobrecidas e apoiar o desenvolvimento local. Com sua carismática presença e sua retórica envolvente, Henrique conquistou a confiança de muitos prefeitos e líderes comunitários. No entanto, sob a superfície, os empréstimos generosos oferecidos pelo banco vinham com condições severas: contratos superfaturados para a construção e serviços, todos vinculados às empresas de Henrique. Os municípios, atolados em dívidas impagáveis, tornaram-se peões em um jogo de enriquecimento dissimulado.
À medida que Henrique expandia seu império, sua influência alcançou além das fronteiras. Ele financiou regimes comunistas em países como Angola e Sri Lanka, oferecendo recursos para que esses governos obtivessem controle sobre vastas reservas de minérios preciosos. Trabalhadores eram explorados em condições desumanas, e suas vidas eram desvalorizadas em prol do lucro. Ao mesmo tempo, Henrique circulava em templos das mais variadas denominações evangélicas e era bem-visto pelo clero católico. Ele permanecia distante dos holofotes, operando com discrição, enquanto seus investimentos garantiam o fluxo contínuo de riquezas e poder.
O verdadeiro auge da corrupção de Henrique veio após um desastre climático devastador na região serrana do Rio de Janeiro. O desastre provocou a destruição de várias cidades e uma crise humanitária grave. Henrique viu essa tragédia como uma oportunidade de lucro e, sob o pretexto de ajuda humanitária, superfaturou os contratos de reconstrução. Suas empresas ganharam fortunas com os recursos destinados à recuperação, enquanto as vítimas lutavam para se reerguer. A tragédia foi manipulada para alimentar ainda mais seu império.
Para manter sua imagem de iluminada benevolência, Henrique era um mestre em criar ilusões. Ele frequentava os camarotes mais caros do sambódromo durante o Carnaval, adornado com abadás caríssimos e um boné do MST. Com o tempo, Henrique construiu uma imagem quase messiânica. Sua retórica persuasiva e suas campanhas midiáticas eram cuidadosamente elaboradas para reforçar sua imagem de salvador. Líderes religiosos se alinharam com ele, e a mídia, muitas vezes comprada ou manipulada, retratava-o como o defensor supremo da justiça social. O público, encantado com sua aparência e discursos, começou a vê-lo como uma figura de virtude e sabedoria, sem perceber as sombras que se escondiam por trás da imagem.
A verdade começou a emergir quando documentos vazados e testemunhos de ex-funcionários começaram a circular. A mídia independente revelou detalhes sobre os empréstimos fraudulentos, os contratos superfaturados e as atrocidades cometidas em países sob as ditaduras financiadas por Henrique. O incidente envolvendo a agressão de uma prostituta em seu iate trouxe à tona a crueldade pessoal de Henrique. Mesmo assim, sua influência permitiu-lhe minimizar o impacto dessas revelações. Subornos, manipulação da imprensa e ataques a críticos ajudaram Henrique a manter sua imagem pública, apesar das evidências esmagadoras de sua corrupção.
Apesar da exposição de sua verdadeira natureza, Henrique Valença continuou a exercer um poder quase absoluto sobre a opinião pública. Milhares de pessoas passaram a vê-lo não apenas como um líder, mas como um verdadeiro messias. Hoje, a dicotomia entre esquerda e direita, ideologias, partidos, religiões e fé foi eclipsada por sua figura. Henrique foi aclamado globalmente, com sua imagem estendida a todas as esferas do poder e da influência.
Ele apareceu na capa da revista Time como o Homem Mais Influente do Mundo e ganhou um assento na ONU, reconhecido por seu combate ao sofrimento de minorias, pelos direitos das mulheres, pelo ecumenismo religioso e por seus esforços em relação ao aquecimento global e às mudanças climáticas, além de acordos de paz no Oriente Médio. A adoração global continuava, e Henrique tornou-se um símbolo de uma era em que a imagem, muitas vezes, ocultava a realidade. Costumava referir-se às pessoas como "minhas ovelhas". Todos o amam, e seu nome ecoará por toda a eternidade por sua singular virtude. Construiu várias estátuas de bronze com 27 metros de altura em todos os países, e todos os moradores da Terra as adoram.