Uma dose e nada mais
Após o jantar, ao sair da residência dos Stephens, Dianna sentiu uma intensa dor de cabeça. Ela sabia que não deveria ter experimentado aquele champagne Chandon Dom Perignon. Porém a bebida havia sido muito bem anunciada por Vincent como um dos champagnes mais caros do mundo. O convite pareceu tão atraente para degustar aquela deliciosa efervescência que Dianna não resistiu a curiosidade de saber se realmente aquela bebida seria tão boa o quanto parecia. Vincent disse que havia recebido a garrafa de presente de um dos seus maiores investidores meses atrás e havia guardado para uma ocasião especial. Nenhuma outra ocasião seria mais especial do que aquela, a celebração por ter seu amado filho Bryan de volta em casa, vivo e em segurança.
Aquele certamente seria um grande momento de celebração, Dianna era a convidada de honra, Vincent fez um brinde a ela, a coragem que teve em buscar informações a respeito do garoto e depois de lhe passar as coordenadas de onde encontrar seu filho. Mais uma vez ele anunciou que ela seria recompensada pois era merecedora e ele era um homem de palavra, digno e honrado.
A noite de honra e homenagem agora não parecia tão agradável com aquela enxaqueca. Dianna ignorou o fato de que não poderia beber, abriu uma exceção naquela noite especial e agora estava sentindo a consequência. Descobriu desde sua mocidade que a menor quantidade de bebida a deixava com dor de cabeça intensa, logo em seguida a um momento de apagão. No colégio foi quando ela percebeu pela primeira vez, após uma festa de encerramento, saiu para comemorar com umas colegas, estava feliz, bastante animada por estar em meio aos seus amigos. Não costumava sair, quase não tinha vida social, naquela noite resolveu aproveitar e acabou exagerando, tomou três latinhas de cerveja. Nas duas primeiras doses não sentiu nada de anormal, ficou eufórica e ainda mais animada. Conversava com todos, dançava, porém após a terceira latinha de cerveja começou a sentir a dor intensa de cabeça que parecia que seu cérebro iria explodir. Lembrou que no dia seguinte acordou na casa de uma outra adolescente que ela nunca tinha visto antes, a menina disse que estudava em outro colégio em um bairro distante do que ela morava. Nem Dianna mesmo conseguia se lembrar como havia chegado naquela casa. Preferiu não perguntar a garota, sentiu vergonha de dizer que não se lembrava do que tinha acontecido. Simplesmente voltou para sua casa e depois desse dia, evitava bebida alcóolica o máximo possível.
***
Leonel subiu as escadas do antigo hotel abandonado, se dirigiu direto para o quarto onde sua amada morara anos antes. Tentou abrir a porta como da última vez que estivera ali, no dia em que montou o cativeiro para receber o garoto. Desta vez ele viera preparado, trouxe consigo uma chave mestra que conseguiu com um dos seus comparsas. Com a chave certa, não encontrou dificuldade em abrir a porta.
Ao entrar no quarto ele olhou espantado, pois os móveis ainda eram os mesmos que tinha na época que a quitinete era alugada por Dianna. Que estranho! Pensou. Faz alguns anos que ela saiu daqui e deixou os móveis como estavam. Ainda que a mobília fosse simples e desgastada pelo tempo, poderia ter doado para alguém ou simplesmente retirado do imóvel. Ele olhou cada utensílio de perto, tocava em alguns, em outros apenas observava, como se tentasse reviver o momento em que o objeto havia sido colocado ali naquele lugar por sua amada. Olhou cada coisa que havia na pequena sala, então se dirigiu para o quarto.
Para sua surpresa, a cama estava arrumada, forrada com um lindo lençol de seda lilás que parecia estar limpo. Leonel achou estranho não estar empoeirado como a mobília do quarto ao lado que haviam usado como cativeiro. Curioso, ele abriu as portas do guarda-roupa embutido que havia no quarto e tamanho foi seu espanto quando viu que tinha algumas roupas nele. Mas não era as roupas de Dianna, ele se lembrava de cada uma delas. Cada uma das peças coloridas, blusas com detalhes delicados, scarpins de salto agulha, vestidos de veludo, camisas em cores sóbrias que transmitiam sabedoria, leveza e feminilidade em uma mesma peça. As roupas penduradas ali eram completamente o oposto disso, tinha jaquetas pretas em couro, calça com o mesmo estilo, coturnos e botas com salto alto, mas em nada remetia ao estilo de Dianna. A quem pertence essas roupas, pensou.
Leonel ficou observando os lençóis macios de seda, deslizou sua mão pela deliciosa textura acetinada, olhando fixamente aquele brilho glamoroso imaginando que estivesse deslizando sua mão pela pele sedosa de Dianna, quando se deu conta já estava deitado sobre a cama como se mergulhasse no corpo dela. Era impossível para ele não se lembrar de sua amada e das noites que passara ali com ela. As lembranças vieram tão vívidas na mente de Leonel que ele se perdeu nos pensamentos, permaneceu ali deitado de bruços, sentindo a seda sob seu corpo, até que caiu no sono.
Um sono tão profundo que não ouviu os passos alguém que se aproximava pelo corredor. A porta se abriu, Angel olhou espantada, como ele estava deitado de costas, ela não reconheceu imediatamente que era Leonel. Já estava bem tarde, por volta da meia noite. As persianas desgastadas cobriam parcialmente a luz que vinha dos postes que havia na rua.
Angel se aproximou da cama, olhou para o rosto do invasor e não acreditou ao ver que era Leonel, seu coração palpitou de emoção. Há quantos anos não o via tão perto, ainda mais ali, deitado em sua cama. Um sorriso de contentamento emoldurou seu rosto, sentiu suas bochechas queimarem, ela não sabia se era de emoção ou de excitação. Tudo o que sabia é que o amor de sua vida estava na sua frente, e ainda mais, em sua cama. Ela não sabia se era verdade ou se estava sonhando, mas desejou congelar o tempo para que aquele momento nunca passasse. Sentou-se na beira da cama e começou acariciar o cabelo de Leonel, seu rosto, deslizou suavemente sua mão pelas costas dele.
Nesse momento Leonel acordou olhou para Angel e perguntou:
— É você meu amor?
Esse conto é um recorte que foi excluído do livro "O beijo da Viúva Negra".