Até amanhã

Um chilreio do alto, de bem distante, como que de um pássaro em movimento para além de algumas nuvens que parecem tocar os cumes dos montes, fez-se ouvir naquele lugar.

 

Um certo eco produziu, e cessou, um silêncio ensurdecedor tomou conta, então, do ambiente de uma maneira quase palpável.

 

À janela da cozinha, fui tocado no rosto, de uma forma bem suave, por uma brisa que prenunciava, já, o frio noturno que se avizinhava àquelas horas de transição da tarde para a noite.

 

De repente, um latido 'de alarme' do velho vira-lata despertou a atenção, talvez pudesse ser alguém chegando ou um animal qualquer se movendo na mata. Nenhum dos dois. Ao passar sob a cerca de arame farpado, prendeu-se pelos pelos em um gancho do alambrado. Logo alguém correu para libertá-lo.

 

Enquanto isso, a noitinha chegou, ladeada pelo frio, e o jantar - uma sopa quente com fatias de pãozinhos de sal - foi servido. Logo após a refeição, todos se banharam, ao menos até onde eu tomei conhecimento, e cada qual tomou seu rumo.

 

Até amanhã.

 

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Taí um lindo retrato da transição do dia para a noite! A descrição dos sons, das brisas e até do latido do vira-lata cria uma atmosfera bastante vívida, atraente e envolvente. Faz o leitor sentir como se estivesse ali também, sentindo a calmaria que se evidencia com a noite e o frio que a acompanha.

 

A brisa suave tocando o rosto do escritor revela ao leitor uma imagem delicada, e gera a expectativa do jantar proposta, uma sopa quente com pãozinhos de sal, e denota um conforto acolhedor.

 

Esses pequenos momentos da vida cotidiana narrados nesse conteúdo têm um jeito especial de nos conectar com as memórias e as sensações simples do nosso dia a dia.

 

E essa cena final, com cada um seguindo seu caminho após o jantar, tem um toque de tranquilidade, de discrição e de rotina familiar, o que é muito bonito e agradável.

 

A despedida - 'até amanhã' - demonstra a satisfação com o período que se finda e a esperança no novo tempo que está por vir.