Estorvo
22.08.24
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Ele se agachou tremulo e inseguro junto a uma lixeira suspensa no corredor de acesso ao metrô. Um senhor de cabelos e bigodes fartos e brancos, mais velho que eu, talvez nos seus oitenta e tantos anos. Preocupou-me, poderia estar tendo um ataque cardíaco ou mau estar súbito. Fui a ele:
-O senhor está se sentindo bem? - perguntei-lhe agachando-me também.
Amarrava o sapato direito com seus gestos lentos e tremular das mãos. Demorou um pouco para concluir o nó. Depois, respondeu-me com voz rouca e fraca:
-Sim, estou bem! Mas é difícil de se agachar para fazer um simples ato de amarrar os sapatos, e depois levantar, não? – alçando seu tronco com seu rosto magro e olhando-me com pálidos olhos negros e um fraco sorriso nos lábios.
Ele me estendeu sua mão direita ainda agachado, pedindo-me:
-Pode, por favor, me ajudar a me levantar? É o pior! As pernas fracas e a falta de equilíbrio podem me fazer cair. Por favor?
Peguei sua mão esquelética e fria e o icei com cuidado. Ele se aprumou, e ainda sorrindo, disse-me:
-Obrigado meu amigo pela gentileza e atenção. São poucas as pessoas que nos ajudam. Às vezes, me sinto como um estorvo, pelo olhar de reprovação que me dão, pois ando devagar, demoro para passar a catraca, embarcar, enfim tudo com muita calma e idade, não é mesmo? Parece que não podemos envelhecer. Mas vamos em frente. Até logo!
-Não quer que o acompanhe?
-Não meu amigo, estou bem, fique tranquilo. Um ótimo fim de noite para você.
Ele seguiu em direção ao embarque com andar arrastado e silhueta encurvada pelos muitos anos vividos. O peso da idade!
Acompanhei-o descer e sumir pela escada rolante.