O círculo
O movimento era circular. Deslizo minha mão sobre o caderno empoeirado e sinto sua aura caótica acordar. Aponto o lápis, sujando a mesa, enquanto penso nos fios do tempo. Fazia alguns anos que não abria aquele caderno. Quando o fiz, inundou-me de emoções, palavras e versos inacabados.
O movimento era circular e ali estava eu novamente. Sentada à escrivaninha, com os cabelos da mesma altura, mas a alma com mais cicatrizes. Fechei os olhos, lendo os textos que estavam presos na garganta e que silenciosamente eram transcritos ao branco do papel.
O movimento era circular. E me parecia que havia apenas dado a volta ao redor do quarto, mas aquele não era o mesmo de antes, nem mesmo a escrivaninha. Minha alma ainda era a mesma, mas estava muito mais marcada que da última vez em que falei na língua dos poemas.
O movimento era circular e eu finalmente, depois de muito andar e me perder, voltei ao lar: nas curvas do meu coração e nas quadras da minha mente.