A Saga de Godofredo III - A Coluna de Hércules
20.08.24
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A viagem do Bristol seguiu por uma semana pelo oceano Atlântico até Lisboa. Iriam reabastecer e atravessar o estreito de Gibraltar, adentrando no mar Mediterrâneo até Porto Said no Egito - a entrada do Canal de Suez.
Godofredo estava excitadíssimo, pois iria conhecer locais que nunca imaginava. Lisboa, por exemplo, ao passar pela famosa Torre de Belém na entrada do rio Tejo, toda esculpida em pedra branca, ficou maravilhado; o Estreito de Gibraltar, o Mar Mediterrâneo, enfim, lugares que na sua infância alimentavam sua imaginação aventureira. Seu avô, vendo o entusiasmo do futuro neto, perguntou:
-Pelo visto, está mais animado que eu, hein Gottfried?
-Sim Paul, muito! Vamos conhecer muitos lugares históricos e importantes da nossa civilização.
Sim, com certeza!
A permanência em Lisboa foi curta, pois teriam uma longa viagem até o porto de Yokohama no Japão, com duração estimada em seis meses. Dois dias depois de atracarem em Lisboa, zarparam para o estreito de Gibraltar, a entrada do Mar Mediterrâneo, e o atravessariam dois dias depois.
Partiram de Lisboa pela manhã, em dia luminoso e quente, com pouco vento e nuvens. Godofredo estava na amurada do navio apreciando a paisagem lusitana, lembrando que foram grandes navegadores e descobridores de novas terras e rotas na idade média. E do Brasil! A viagem foi costeando o território português e da Espanha, na qual fica a possessão britânica de Gibraltar.
Passaram-se dois dias. O Bristol entrava no estreito, e ele e o avô, apoiados na amurada do navio admiravam a imensa e alta rocha única, deixando Godofredo espantado com o que a natureza lhe proporcionava. A enorme elevação saía do chão isolada e imponente. Seu futuro avô ao seu lado, vendo o êxtase de Godofredo, disse-lhe:
-O estreito tem largura de 16 quilômetros e 58 de comprimento. O rochedo que apreciamos pela sua beleza é a Coluna de Hércules, ou Rochedo de Gibraltar, localizado no território Britânico.
-Espetacular! Parece que Hércules está descansado depois dos 12 Trabalhos, não?
-Sim! Às vezes, a natureza se confunde com a realidade - comentou o avô.
-E como sabe destes detalhes? – perguntou Godofredo.
-Ah, meu caro Gottfried, eu estudei muito antes de embarcarmos, mesmo quando estava lotado no castelo, pois sempre foi meu sonho ir a estes lugares, que agora estamos admirando. E teremos muito mais! A próxima parada será em Malta.
O navio adentrava tranquilo no azul límpido das águas do Mediterrâneo acompanhado pelo sono de Hércules, com destino a Malta, a próxima parada há quase dois mil quilômetros. Godofredo ficou mais ansioso e animado.
Ele relembrou toda a sua aventura com os antepassados do seu pai e os mouros, pois foi lá que surgiu a sua família paterna e que depois se estabeleceu na Calábria.
-E qual é a previsão de aportarmos lá? – perguntou ao avô. Este, respondeu:
-Vamos à torre de comando falar com o Capitão.
Na sala de comando do navio, o capitão Winston fumava seu cachimbo tranquilamente sentado na cadeira do comandante, e ao vê-los, sorriu e disse-lhes:
-Maravilhosa a vista da Coluna de Hércules, não é meus amigos?
-Impressionante, capitão e que altura hein? Imponente! - disse Godofredo alegre.
-Sim! Ele tem mais de 400 metros de altura e domina toda a entrada do Mediterrâneo. Ele nos foi cedido em 1713 após a guerra de Secessão na Espanha pelo tratado de Utrecht, e é vital estrategicamente para o tráfego marítimo.
-Interessante! O senhor, como meu avô, estudou e sabe bastante da história contemporânea, não?
-Sim! E para me tornar comandante naval, tive que estudar muito sobre os vários lugares importantes da navegação marítima. Mas, também sou curioso e gosto de saber suas peculiaridades.
-E quando chegaremos à Malta? – perguntou Godofredo, animadíssimo, mostrando sua agitação ao falar.
-Caro Gottfried, vejo que está muito interessado em Malta – perguntou-lhe curioso o comandante, soltando uma longa baforada de fumaça.
-Tenho origens maltesas. Meus antepassados foram cruzados e enfrentaram os mouros em combates na ilha. Esse é o motivo - falou olhando para o seu futuro avô, que não imaginava que ele também era um desconhecido de Godofredo.
-Mas que interessante meu caro Gottfried. Pensei que fosse germânica a sua origem? – disse-lhe surpreso o avô, sob os olhares do capitão.
-Pois é, meu caro amigo Paul, sou descendente de francês e alemão por parte de mãe, e italiano por parte de pai.
-Mas que bela salada hein meu caro Gottfried ? – falou o capitão.
-E qual é a sua família alemã? – perguntou curioso seu futuro avô.
Godofredo, quando da sua contratação para embarcar, não apresentou nenhum documento, pois foi seu avô quem conseguira sua colocação por ter sido guarda imperial do Kaiser e Godofredo seu valete. Ficou nervoso e pediu ajuda a Cons., dizendo-lhe na sua mente:
-E agora? Não posso dizer o sobrenome do meu avô.
-Diga dos antepassados franceses da sua mãe, Krumin Lep – respondeu Cons.
-Vamos ver no que vai dar! – disse mentalmente a Cons.
-Gottfried Kruminn Lep! – falou de supetão aos dois que o aguardavam responder.
-E qual é a origem dele – seguiu inquirindo-o seu avô, desconfiado.
-Francesa e alemã! – disse ele preocupado.
Neste instante, tocou a sineta da casa de máquinas para saber qual seria a velocidade de cruzeiro para Malta. O capitão se levantou e foi até o comando de velocidade e colocou meia força.
Seu avô sentiu um desconforto com Gottfried, perguntando-lhe:
-Está tudo bem com você, meu caro amigo?
-Voltou a minha enxaqueca! Posso ir me deitar um pouco no escuro? Logo estarei bem para servir o jantar – pedindo ao seu avô.
-Sim, claro meu amigo. Vá descansar