Uma bola imprevisível

Nas vésperas das Olímpiadas de Seul (Coreia do Sul), 1988, a empresa de sucos artificiais Tang lançou uma campanha para promover esportes como o voley no Brasil.

Sendo assim, em um dia tranquilo, o saudoso Pe. Guido Tonelotto (in memoriam) fez sua feira semanal e comprou um pacote do produto, aqui em Mossoró. Dentro de um sachê estava um vale-brinde, que dava direito a uma bola de vôley.

Como escrevi acima, esse esporte ainda não estava no auge no país. Trocamos o vale-brinde pela bola e primeiro começamos a brincar, com rede improvisada, mas somente a título de diversão. João Amâncio, que era formado em Educação Física viu e se interessou por aquele grupo de adolescentes que desenvolvia algumas atividades sem muita prática.

João Amâncio, desta forma nos convidou a realizar um treinamento mais sério, nos apresentando os fundamentos desse esporte. Nilton, Rani, Josemar, Mário César, Teófilo (in memoriam) e eu passamos a nos dedicar aos treinamentos propostos por aquele amigo professor, que na época estava desempregado. Estava se criando, dessa forma, a primeira equipe masculina de vôley da paróquia de São José, de Mossoró (RN).

Nosso mentor Pe. Guido, como não podia ser diferente, estava sempre a nos animar e a investir nos materiais necessários para a prática desse esporte. Já que era necessário rede, bola, uniformes e principalmente, espaço.

Rapidamente, outros praticantes e admiradores do esporte começaram a se aproximar. Muitos amigos. Destaque para Valdir, Fabinho, Ronaldo, Último, Carvalho, Bebeto (canhoto), Naldão (uma figura), Cardoso, Cid (in memoriam), Michelson da Repet e vários outros que se juntaram ao esporte da “moda”. Cardoso, foi um dos que, através do vôley, ficou tão animado com esse esporte que decidiu fazer a faculdade de Educação Física.

Em pouco tempo, Mossoró tinha várias “células” de jovens e adolescentes jogando esse esporte. Bairro Bom Jardim, Paredões e vários outros locais. Além, claro, da escola Dom Bosco, de Genésio Filgueira (in Memoriam) e do Diocesano, que tinha como diretor Pe. Sátiro Cavalcante Dantas (in Memoriam).

Depois de meses aprendendo o que era recepção, manchete, bloqueio, ataque/cortada, peixinho e os fundamentos que fazem parte desse esporte conseguimos montar um time e marcar amistosos com uma das melhores equipes de Mossoró: a equipe do Colégio Diocesano, treinada pelo professor Tananam (in Memoriam). Enquanto que o técnico de nossa equipe era o amigo João Amâncio.

No primeiro amistoso, que ocorreu no ginásio daquela famosa escola (ainda chamado de ginásio Marcelo Emídio - in memoriam), sofremos uma derrota esmagodora. Não vimos a “cor” da bola. Estavamos totalmente perdidos em quadra. O que, primeiramente, nos frustrou, mas não nos desanimou e continuamos a treinar forte. Nilton César e eu passamos a jogar duplas na AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) de Mossoró, nos finais de semana. E o nível era bem mais forte. Enquanto os outros do time jogavam durante a semana, após a missa, na praça da igreja São José de Mossoró.

Rani e Nilton eram os ponteiros do time. Eu e Josimar os levantadores (nessa época o sistema ainda não era 5 x 1). Treinavamos e chegavamos muitas vezes a exaustão.

Fomos enfrentar uma equipe na cidade de Baraúna (RN), há poucos minutos de Mossoró. E dessa vez, a equipe jogou muito bem e já começava a mostrar o resultado dos treinamentos e menos estranheza com a quadra e as regras. Saímos vencedores e contentes com nossa primeira vitória diante de outra equipe, que tinha uma quadra para realizar seu treinamento, enquanto que treinavamos apenas na praça. Começava assim, um ciclo de vítória. Voltamos a enfrentar o Diocesano e dessa vez, mesmo ainda não ganhando, já competíamos com oportunidade para vencer. Na quarta ou quinta partida, conseguimos vencê-los e não voltamos mais a perder, principalmente, pelo fato que não fomos mais convidados a enfrentá-los.

Diante da nova “demanda” e pedidos, Pe.Guido decidiu fazer uma quadra de voley de praia, onde treinavamos diariamente, menos aos sábados e domingos. Ele sabia da importância do esporte para os adolescentes. Como educador, era claro para ele que o voley sendo um esporte de forte impacto, nos ajudava a descarregar as tensões, mais que o futebol.

Nilton César, rapidamente, foi quem mais se notabilizou como um dos melhores jogadores daquela geração, principalmente devido ao tempo que impregou na sua preparação. Os outros do time, empregaram o tempo em outros temas e atividades. Nilton chegou a ganhar campeonatos jogando vôley de praia em vários anos e locais.

O voley nos proporcionou, para mim e meus amigos de adolescência, a oportunidade de conhecer a disciplina, o bem que nos faz exercícios físicos e, como não poderia deixar de mencionar, a capacidade de nos socializar com várias pessoas de Mossoró e cidades circunvizinhas.

É o que chamamos de bola imprevisível, pois não sabíamos o quanto ela iria mobilizar toda uma geração com novos hábitos e atitudes.

Pax et Lux!

Francisco Canindé Neres

Mossoró (RN), 15 de agosto de 2024.

Canindé Neres
Enviado por Canindé Neres em 15/08/2024
Reeditado em 13/09/2024
Código do texto: T8129501
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