“Pernetinha”

14.08.24

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Estava faminto e exausto. Em cima do muro de uma casa, viu comida. Voou para lá, animado. Pousou. Andava claudicante sobre o muro, pois uma das suas pernas havia sido machucada em briga que teve com outro pássaro. Era um João de Barro.

Então, um homem se encaminhou até ele. Ficou preocupado, nervoso. Escutou-o dizer palavras carinhosas e amigáveis:

-Oi bonitão! Está com fome? Come, come - disse-lhe com voz fraterna. Ele se acalmou e foi saltitando em uma só perna até o milho triturado. Ouviu-o novamente:

- Machucou a perninha? Coma então, você está precisando. Vamos querido, coma tranquilo.

Ele começou a bicar os pedaços de milho triturado. Comeu sofregamente. Outros pássaros também se refestelavam, como ele. O homem permanecia por perto, observando-o.

Satisfeito, desceu ao gramado da casa e se aninhou ao sol em um canto, camuflando-se na relva verde. Precisava descansar, pois a pata lhe doía bastante. Sentiu-se seguro ali.

Passou algumas horas, ele ainda na grama, o homem apareceu novamente, preocupado.

-Ah, está descansando um pouco, meu amigo?

Ele permaneceu tranquilo, pois sentiu que não seria molestado pelo homem. Refeito, voou para casa.

-Tchau querido, até amanhã.

No dia seguinte, foi novamente à casa do homem carinhoso. Este, distribuía a quirera sobre o muro. Ao vê-lo, piou dando-lhe bom dia. O homem o reconheceu e respondeu:

-Oi, bom dia “Pernetinha”, como você está hoje, melhor? Venha comer, está fresquinha a ração. Acabei de colocar, vem?

Ele piou de volta, agradecendo. Comeu com vontade. E novamente se aninhou no gramado. Doía ainda a pata. Permaneceu assim sob o sol por um longo tempo, descansando. Precisava se poupar de movimentos com a pata machucada.

O homem voltou e o viu no gramado. Foi para dentro da casa e trouxe o pote com ração, distribuindo-a na grama perto dele. Depois, trouxe um potezinho com água.

-Coma querido e beba, assim você não precisa se mexer, né?

Ele olhou para o home, e piou agradecido.

-Ah, não tem de quê, “Pernetinha”!

Assim, quase todos os dias ia ele até o muro da casa do homem amigável, fazer suas refeições e se recuperar deitado ao sol no gramado, encontrando-se com seu amigo humano, que ao vê-lo dizia:

-Bom dia, “Pernetinha”! Ele respondia com seu piado.

O tempo passou, ele praticamente se recuperou, e um dia, como sempre, foi à casa da quirera no muro, e ao pousar, não havia mais a ração. Estranhou.

Piou forte chamando o amigo que o cuidara, e nada. Piou mais forte. Nada! Ficou triste. Ainda havia restos de milho no gramado, que comeu.

Voltou outros dias, mas não mais o encontrou. Sentiu saudades, com seu jeito amigável e querido.

E, de lhe chamar de “Pernetinha”.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 13/08/2024
Reeditado em 13/08/2024
Código do texto: T8128232
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