Como Fogo Nos Meus Olhos
Hoje vi você andando por lá. No enigma em que me encontro, pergunto a mim mesmo: como eu não veria? Ao contrário do que muitos dizem sobre a escuridão, seus cabelos negros, sóbrios, era como fogo nos meus olhos. Sua saia azul-marinho escolar contrastava perfeitamente com seu olhar, que, para as mulheres, dizia: “Sou mais bonita que você” e, para os homens: “Sou muito bonita para você.”
Você caminhava com passos longos e cuidadosos, cativando não só a mim, mas a todos. Entretanto, ao se recostar ao lado de garotas que, em comparação a você, eram insignificantes, juntei-me a garotos que, para mim, tinham algum significado. O problema era que, ao me sentar e olhar para sua imagem à esquerda, eu perdia sua beleza à direita. E se olhasse para a direita, acontecia o mesmo. Procurei o centro; só ele poderia me oferecer uma perspectiva tão perfeita quanto o bocejar que você deu, um bocejar que, diferente de muitos, não deformava seu rosto.
Quando finalmente encontrei o centro, percebi que não me contentaria com menos. Por isso, observei, analisei e planejei como me sentar ao seu lado, pois as insignificantes lhe cercavam, assim como os garotos.
Após pensar, repensar e quase chorar, elas se levantaram, fazendo o melhor que sabiam fazer: serem insignificantes. Você se jogou contra sua mochila sobre seu colo e me perguntei se aquilo era um artifício para evitar conversa. Era uma incógnita, então não arrisquei fazer o contrário.
Se arrependimento matasse, eu precisaria de outra vida.
Ao me aproximar, vi você se levantar e se retirar, sem hesitar. Querendo disfarçar, sentei-me ao lado de uma garota que, terrivelmente, avisou ao amigo: “Esse garoto é esquisito.” Não sei se referia a mim, mas de qualquer forma, você já havia ido embora.