Reunião de equipe

Darryon estava acostumado com as reuniões de equipe da barbearia Foster, embora elas não fossem frequentes e só fossem convocadas em ocasiões especiais, quando o proprietário precisava tomar alguma decisão que envolvia a todos os funcionários. O que mudara agora é que Darryon não era mais o garoto encarregado de ligar para a pizzaria e fazer os pedidos para servir aos colegas; havia um novo aprendiz, Lamarcus, encarregado disto. Ademais, naquela noite de segunda-feira pós-expediente, havia um elemento na pauta que envolvia diretamente Darryon, e ele estava ansioso por ver a quantas andava o seu poder de persuasão sobre os demais barbeiros.

- Bem... precisamos resolver algumas situações, e por isso pedi a todos que ficassem um pouco além do horário - começou a falar o velho Foster, em tom de desculpas, olhando nos rostos de cada um dos seus funcionários. - Prometo que serei rápido.

- Bom saber - redarguiu Kordell Anthony, com uma piscadela para Darryon. O rapaz apenas sorriu.

- Como já devem ter percebido, nos últimos seis meses dois novos salões foram abertos no quarteirão - disse Ambrose Foster. - E eles têm um diferencial em relação a nós: são mistos. Também funcionam como salões de beleza para mulheres.

- Essa é uma tendência da qual não temos como fugir - pontuou Darryon.

Foster olhou para ele como se estivesse aguardando o comentário, mas prosseguiu com sua fala:

- Sem sombra de dúvida, atender mulheres contribui para aumentar o faturamento e a renda de todos os envolvidos... afinal, não é novidade que mulheres gastam mais do que homens em salões. A minha pergunta é: devemos aderir à novidade e mudar o espírito da barbearia Foster, ou continuamos fiéis ao nosso público original?

Os barbeiros entreolharam-se. Jimar Cobb ergueu a mão. Foster fez um gesto de cabeça, autorizando-o a falar.

- Sr. Foster... acho que temos um problema maior do que seguir a moda. Quantos de nós aqui têm um curso de especialização em cortes femininos? Além do Darryon, é claro.

E lançou um olhar irônico para o citado, que continuou impassível. Mas Darryon sabia que Jimar havia levantado um ponto importante e que isso pesaria na balança, na hora em que o velho Foster fosse tomar uma decisão.

- Nem todo mundo aqui vai ter tempo e condições de voltar para a escola de barbearia... - ponderou um dos profissionais mais antigos, Eliyah. Alguns murmúrios de concordância se seguiram ao comentário.

- O que você nos diz, Darryon? - Foster encarou diretamente o principal divulgador da ideia, que estava de braços cruzados.

- Sr. Foster, como o senhor mesmo lembrou, atender mulheres iria nos trazer um reforço de caixa... embora eu também reconheça que somente eu estaria pronto para começar o atendimento de imediato. Mas penso que esse poderia ser um primeiro passo para algo maior: contratar cabeleireiras para o salão.

Os demais colegas, incluindo Kordell Anthony, o encararam surpresos. Até então, ninguém havia ventilado tal sugestão.

- Cabeleireiras? - Foster pareceu ficar realmente surpreso.

- Como ainda não temos uma estrutura para o trabalho delas, e isso exigiria investimento, talvez possamos começar com manicures - explanou Darryon. - Basicamente, elas só precisam de uma mesinha e uma cadeira para trabalhar.

Ambrose Foster levou a mão ao queixo, ruminando a ideia. Depois, voltou-se novamente para o rapaz.

- Realmente não sei se valeria a pena investir em cabeleireiras... temos que ter uma estrutura, como você mesmo citou... além de provavelmente eu ter que tirar mais algumas licenças, para tratamentos estéticos e essas coisas... mas isso das manicures é interessante, Darryon.

O interpelado não deixou escapar a oportunidade de vender seu peixe:

- E enquanto isso, eu estou disposto a atender algumas mulheres que já costumam frequentar o nosso ambiente, embora não para cortar cabelos: as garotas do rap. Elas vêm aqui acompanhando os namorados ou amigos.

Os colegas entreolharam-se, trocando acenos de cabeça. Realmente, aquele era um fato que nenhum deles havia atentado: mulheres já vinham habitualmente ao salão, embora não fossem do tipo em que eles normalmente pensariam como clientes.

- Eu estou disposto a dar uma oportunidade ao garoto, - admitiu o velho Foster - até porque, de cara, não precisaríamos mudar quase nada. Continuaríamos a atender nossa antiga clientela, e de início apenas o Darryon cuidaria das mulheres... até que mais de vocês resolvessem fazer cursos de especialização.

Aquilo soou quase como uma reprimenda aos demais barbeiros, que subitamente pareceram se dar conta de que estavam sendo confrontados com a opção de evoluir ou se extinguir. A partir do momento em que Darryon começasse a atender a sua clientela exclusiva, se tornaria o novo parâmetro pelo qual todos os outros seriam avaliados.

- Mas você vai ter que investir no seu próprio equipamento, Darryon - Foster apontou para o rapaz, que já estava esperando ouvir algo assim. - Vai ter que me provar que a sua ideia pode dar certo, às suas próprias custas.

- Fico muito grato pela confiança, senhor Foster - respondeu o rapaz. - Prometo que não irei lhe decepcionar.

- Assim espero - Foster bateu palmas. - Fim da reunião, vamos comer umas pizzas!