'BENDITO É O VENTRE DE VOSSAS MULHERES'

“Bendito é o ventre de vossas mulheres”

Ivonoel cardoso

O médico acabou de traze-lo aos pais. O garoto tinha um olhar encantador, de quem acaba de descobrir um novo mundo, remexendo os olhos para todas as direções. Os pais, olhavam-no fixos, admiravam o bebê incansavelmente. A alegria brilhante nos olhos de quem tentaram várias vezes ser pais era visível, finalmente o sonho tornou-se realidade. Jamais perderam as esperanças, apesar dos seus trinta e poucos anos, eram ainda saudáveis e confiantes que o milagre aconteceria, finalmente tinham o filho nas mãos.

Levaram o pequeno para casa. O recém-nascido olhava em torno de uma desconfiança e um choro ecoou pela casa. Os pais vibraram com aquela cena, era exatamente o que queriam ouvir, isso lhes servia como música.

A mãe acalentou a criança com o leite materno, queria sentir esse momento, queria acalanta-lo e fazia-o com tamanha dedicação.

Por um segundo, a mãe olhando a criança soluçava em prantos profundos, o fato é que tinha medo, que alguma coisa interrompesse a alegria do casal, olhava para o filho e via a manifestação do amor e da forca de vontade que tanto desejou. Medo de que, assim como em tantas vezes, ter seu primogênito arrancado dos braços pela morte que os sondaram a tanto tempo.

O marido foi positivo, recusando ouvir tamanho martírio e a encorajava a viver o momento, recusava o próprio medo interno e as convicções de que os pensamentos da mulher eram assustadores.

Infelizmente, a realidade mais tarde não podia ser ignorada por eles. Condicionado a seus corpos atarracados, mãozinhas brancas, unhas roxas e marcas quase ridículas da agressividade do aperto, o menino parara de respirar. O mundo caíra novamente.

Abalados com o ocorrido, os pais foram para a cama com o bebe já falecido, cobrindo-lhe o corpo com o cobertor de pelúcia feito com tanto carinho, apagando as luzes e cantarolando pela última vez a canção de ninar, antes que pudessem soltar gritos de desespero novamente.

Dormiram, ainda que sentido a dor do luto e o corpo gélido da criança!

Ivonoel cardoso
Enviado por Ivonoel cardoso em 16/07/2024
Reeditado em 16/07/2024
Código do texto: T8108043
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